Pesquisa avalia impacto de agrotóxicos na população de abelhas em Belterra, PA

Uma pesquisa realizada na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) em parceria com a Universidade Federal de Uberlândia (UFU), de Minas Gerais, analisou o impacto de agrotóxicos nas populações de abelhas do planalto no município de Belterra. O estudo foi feito no ano passado, no período de agosto de 2018 a julho de 2019, e é resultado da pesquisa de mestrado da professora Maria Fernanda de Oliveira Ferreira, do campus da Ufopa em Monte Alegre, defendida no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais da UFU, em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade da Ufopa.

A pesquisa reforça as consequências negativas do uso de agrotóxicos para as espécies de abelhas nativas sem ferrão, usualmente utilizadas na meliponicultura para a coleta de mel e outros recursos, na região Oeste do Pará. Esses agrotóxicos são utilizados nas plantações para onde as abelhas podem voar e, assim, manter contato com essas substâncias, sofrendo intoxicação.

As abelhas sem ferrão estão incluídas no grupo dos principais polinizadores, cujo serviço ecológico é extremamente importante. De acordo com a professora Maria Fernanda, as abelhas vêm sofrendo sérias ameaças que causam um declínio em suas populações, conforme evidenciado em diversos trabalhos científicos. “Algumas mudanças ambientais, tais como mudanças climáticas e perda de habitat, estão associadas a esse declínio e ao declínio de serviços de polinização; entretanto, um dos principais fatores apontados é a intoxicação por agrotóxicos”, diz a pesquisadora. Ela acrescenta que, “sem a atuação dos polinizadores, a biodiversidade é afetada, e menos biodiversidade pode causar maior vulnerabilidade a pragas e doenças da fauna e flora. Outra consequência da perda de biodiversidade é a restrição de alimentos e da agricultura, colocando a segurança alimentar em risco”.

A pesquisa

A pesquisa do mestrado, que resultou na dissertação Efeitos de diferentes agrotóxicos na sobrevivência e comportamento de Scaptotrigona aff. xanthotricha (Apidae, Meliponini), teve como objetivo avaliar as dosagens letais de agrotóxicos e efeitos subletais, através dos testes de comportamento realizados com a espécie de belha Scaptotrigona aff. xanthotricha (Apidae, Meliponini), popularmente conhecida como abelha-canudo. Os dois inseticidas escolhidos para o estudo são comumente utilizados em cultivos de soja na região: abamectina e acetamiprido. “Esses testes de comportamento representam as atividades das abelhas em seus hábitos de vida, mostrando assim como estas são afetadas e prejudicadas pela alteração cognitiva causada pelos inseticidas. Dependendo da dose, os inseticidas podem agir aumentando ou diminuindo o metabolismo das abelhas. Quando a dose não é letal, os efeitos subletais podem ser tão prejudiciais quanto, em decorrência dessa alteração de comportamento”, destacou a professora Maria Fernanda.

De acordo com os resultados da pesquisa, os dois inseticidas estudados são altamente tóxicos para a espécie. “Além de serem necessárias baixíssimas doses para a dosagem letal da população de abelhas, a locomoção e o reflexo dos indivíduos intoxicados com doses subletais ficaram nitidamente alterados, e se um indivíduo intoxicado consegue retornar à colônia, ele ainda pode intoxicar outros indivíduos através do contato”, alerta a pesquisadora.

Continuidade do estudo

Além da pesquisa do mestrado da professora Maria Fernanda, a mestranda Gernilane Caldeira Souza, do Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Ambiente e Qualidade de Vida da Ufopa, e a graduada Wanessa Regina da Silva Costa estão desenvolvendo trabalhos sobre os efeitos de herbicidas na sobrevivência e comportamento de abelhas sem ferrão. Os trabalhos estão sob orientação da professora Alanna do Socorro Lima da Silva, em parceria com os professores Maria Fernanda, Gustavo da Silva Claudiano e Graciene Conceição dos Santos. Esse estudo faz parte do projeto Avaliação comportamental e do bem-estar de animais criados na região Oeste do Pará, cadastrado no Instituto de Biodiversidade e Florestas (Ibef). Um dos objetivos é identificar problemas que geram alterações comportamentais e apontar os principais pontos críticos que afetam o bem-estar das abelhas. O estudo está mapeando os efeitos de agrotóxicos na sobrevivência e no comportamento.

Para a pesquisadora, “os resultados obtidos nos trabalhos são exemplos que nos possibilitam ilustrar a importância dessas pesquisas com abelhas nativas, principalmente na região amazônica, a qual vem sofrendo mudanças bruscas decorrentes de ações antrópicas. E também vêm com o intuito de reforçar a necessidade de estudos comportamentais dessas espécies para colaborar com a preservação destas”.

Segundo ela, deve haver um comprometimento com o uso correto desses compostos químicos em cultivos, uma vez que em campo as condições de intoxicação extrapolam o que foi avaliado em laboratório, podendo afetar não só os indivíduos intoxicados diretamente, como as colônias e proles também. “Essas pesquisas são fundamentais para o entendimento de fatores que causam o declínio das abelhas, para que seja feito um manejo correto e para que a preservação das espécies seja realizada, evitando terceiros prejuízos ao ecossistema”, finalizou.

Publicação

A pesquisa da professora Maria Fernanda de Oliveira Ferreira (Ufopa/Monte Alegre) teve auxílio do pesquisador Rafael de Fraga, do Laboratório de Ecologia e Comportamento Animal (Ufopa), sob orientação de Solange Cristina Augusto (UFU/INBIO) e coorientação do professor Emerson Cristi de Barros (Ufopa/Ibef), em parceria com os professores Gustavo da Silva Claudiano (Ufopa/Ibef), Alanna do Socorro Lima da Silva (Ufopa/Ibef) e Graciene Conceição dos Santos (Ufopa/Ibef). A dissertação resultou no artigo Effects of abamectin and acetamiprid pesticides on the survival and behavior of Scaptotrigona aff. xanthotricha (Apidae, Meliponini) (tradução: “Efeitos dos pesticidas abamectina e acetamiprido na sobrevivência e comportamento de Scaptotrigona aff. xanthotricha (Apidae, Meliponini)”), publicado na revista Journal of Apicultural Research (Revista de Pesquisa em Apicultura), classificada como Qualis A2 pela Capes.

As informações são da ascom/Ufopa

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