Estudante borari defende TCC e se torna a primeira indígena gestora ambiental da Ufopa

A Relação da Etnia Borari com o Igarapé do Jacundá em Alter do Chão, Pará – Brasil. Esse é o tema do trabalho de conclusão de curso (TCC) defendido pela aluna Elaine Borari no curso de Gestão Ambiental do Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas (ICTA) da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa).

Elaine Borari fez a defesa do TCC no último dia 19 de agosto. Foto: Arquivo pessoal

A defesa ocorreu no dia 19 de agosto de 2021 e se tornou um marco, pois Elaine se tornou a primeira gestora ambiental indígena formada em uma universidade pública brasileira.

A autora destacou que sua pesquisa teve como objetivo principal apresentar um diagnóstico ambiental e cultural para a melhor forma de preservação da área do entorno da cabeceira do lago do Jacundá, no distrito de Alter do Chão, em Santarém, vila balneária localizada a 37 quilômetros da sede do município.

Segundo ela, a escolha do tema se deu pela preocupação com o meio ambiente, devido ao crescente assoreamento que ocorre no entorno do lago do Jacundá, com o desmatamento da cabeceira do igarapé e com a perda excessiva das plantas nativas que a protegem. “A relação com a comunidade está para além de um costume, é uma forma de mostrar o respeito pelo que é mais sagrado: à água, por ser vida, e aos encantados, que são sua história, isto é, pela comunidade indígena”, destacou Elaine Borari.

Resultados

O percurso metodológico da pesquisa iniciou-se com levantamento bibliográfico sobre o tema proposto, seguido de busca por documentos relacionados à área, pesquisa de campo de caráter qualitativo-quantitativo, além de entrevistas e conversas com sujeitos envolvidos no tema.

“Como resultados, observamos que, diante dos relatos, compreende-se que os indígenas ainda precisam do igarapé para seu autossustento, buscam formas de preservar seu território para manutenção das suas atividades tradicionais e, principalmente, por ainda possuirem muitas plantas de uso medicinal, de alimentação e de artesanato”, apontou Elaine Borari.

A pesquisa, segundo ela, foi motivada desde 2014 pelas suas observações como moradora do local: “Minha ideia foi essa, por eu morar aqui perto. Via muitas coisas erradas. Desde lá fui pegando os materiais que estavam disponíveis, como as imagens, os relatos que eu já tinha de conhecimentos desde 2012. A minha pesquisa de campo, já como universitária, foi desde 2019. Juntei o que já tinha e fui novamente em campo, comparando os dois períodos da seca e da enchente, observando o que havia mudado ou vinha mudando entre 2019 a 2021”.

Dificuldades no acesso à área

Elaine Borari apontou que, mesmo sendo moradora, o acesso à área foi uma das maiores dificuldades para a realização do trabalho: “Apesar de eu nascer e me criar aqui às margens do lago do Jacundá, tive dificuldades. Com o passar do tempo, áreas iam sendo vendidas, e com isso muitas partes do lago e do igarapé foram bloqueadas. Os donos cercaram e impedem a passagem. Então, isso foi a maior dificuldade para eu conseguir chegar nas cabeceiras e nas nascentes do igarapé”.

Elaine Borari, como gestora ambiental e como moradora da comunidade, observa que está havendo uma mudança acelerada no local. “Eu, como gestora ambiental, tenho um papel de observar, verificar, fazer um diagnóstico na área, desenvolver uma maneira de reduzir os impactos ambientais, uma forma de evitar o desmatamento, onde causa erosão no igarapé, que aos poucos está perdendo suas características, tanto ambiental como de espaço sagrado para os Borari, que tanto cuidam e que acabam sendo desrespeitados”.

Professor Rafael Magalhães, coordenador do Bacharelado em Gestão Ambiental (ICTA/Ufopa) e orientador do trabalho, externou a satisfação pela trajetória acadêmica e pela pesquisa desenvolvida por Elaine Borari. “Representa uma conquista de toda a sociedade do Oeste do Pará, em especial para enfatizar a integração de saberes para garantias dos direitos sociais, ambientais, territoriais e culturais. Como orientador, posso dizer, sem dúvida, que o aprendizado foi mútuo nestes últimos dois anos de parceria, em especial por lidar com o excelente protagonismo dela, desde a escolha do tema até a discussão da pesquisa”, disse o professor.

Sobre as terras Borari

Mesmo a área de Alter do Chão sendo conhecida na região como espaço Borari, o processo de demarcação das terras indígenas está parado. Relatório antropológico divulgado em 2009, de observações feitas na região, aponta que as terras identificadas e delimitadas no documento “são de ocupação tradicional do grupo indígena Borari. A análise das referências bibliográficas históricas e antropológicas, associadas aos trabalhos de campo, mostra que a terra indígena identificada neste relatório é ocupada pelos Borari, segundo seus usos, costumes e tradições próprios, há tempos que se perdem na memória dos índios e dos habitantes regionais”.

Ainda de acordo com o relatório, os borari “necessitam das áreas de mata e dos cursos de água que deságuam no Lago Verde para manterem seu padrão adaptativo, pois possuem uma estreita relação com os ambientes que se encontram no interior das florestas e nas margens e leito dos rios. Esta relação ultrapassa a dimensão econômica e utilitária representando também o substrato da vida cultural e simbólica da sociedade Borari. A vida nas margens do Lago Verde e nos seus igarapés contribui para moldar tanto sua economia e subsistência, como também seus sistemas de classificação espacial e sua visão de mundo”.

As informações do relatório foram passadas pela professora Luciana Franca, antropóloga do Programa de Antropologia e Arqueologia do Instituto de Ciências da Sociedade (ICS) da Ufopa.

As informações são da Ufopa

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