Noite de quarta-feira (19) surgiu, em um perfil do Facebook, a imagem de uma modelo negra. Junto à fotografia, uma legenda que dizia: “cosplay de microfone”.
Cosplay, abreviação de uma palavra em inglês, é um termo usado pela geração teen e significa costume play e é usada para designar pessoas que se travestem de personagens de mangás, super-heróis ou avatares de jogos eletrônicos.
A “piada”, portanto, fazia referência ao cabelo da mulher.
O autor da postagem é o professor da rede pública, Murilo Vargas. Ele leciona língua espanhola no Centro de Ensino Médio 804, no Recanto das Emas, cidade-satélite de Brasília.
Grande parte de seus alunos e alunas têm cabelos afro. E nenhum deles achou a postagem do professor engraçada; nem mesmo os de cabelos lisos.
Chocados, os estudantes fizeram um abaixo-assinado pedindo a saída do professor daquela unidade de ensino. E não foi só por isso. Os alunos já estavam indignados com diversas outras manifestações racistas e homofóbicas do professor.
Em um comentário sobre a menina de 10 anos que foi estuprada pelo tio, no Espírito Santo, o professor escreveu: “entre a criança e o bebê, fico com quem era completamente incapaz de se defender”.
Claro que ele sugere aqui que a menina poderia ter evitado o estupro, culpando a vítima.
No dia seguinte, após a repercussão negativa de sua postagem infeliz e do abaixo-assinado pedindo seu afastamento, o professor soltou uma nota nas redes sociais onde diz: “Eu, Murilo Vargas, venho por meio desta nota de retratação pedir minhas sinceras desculpas a todos que, de alguma forma, se sentiram ofendidos com um post que publiquei nesta página pessoal no dia de ontem”.
Porém, a polícia não trabalha com pedidos informais de desculpa, afinal, racismo é crime e não se paga por um crime pedindo desculpas na internet.
Uma investigação foi aberta pela Polícia Civil do DF que vai apurar a conduta do profissional de educação.
Na nota, o professor diz, ainda, que sua postagem tinha como objetivo “fomentar um debate sobre os limites do humor”.
Racismo é tipificado como crime, de acordo com o artigo 140 do Código Penal, que caracteriza como injúria “a utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia”. A pena é de um a três anos de reclusão e multa.
E escola onde Murilo leciona publicou uma nota em que reprova a conduta do educador dizendo que “essas declarações não refletem o pensamento da escola”.
Leia a íntegra da nota:
O CEM 804 do Recanto das Emas vem a público, por meio de suas redes sociais, manifestar o seu repúdio à declaração com teor que pode ser considerado como racista, proferida por um de seus professores no Facebook particular.
Essas declarações não refletem o pensamento da escola, que sempre prezou pela diversidade e pluralidade de ideias e procurou sempre se pautar pelos princípios da liberdade, como escola formadora do pensamento crítico-reflexivo, independente de partidarismo político, ideologia, raça ou credo.
O CEM 804 se orgulha também de ser formado por uma comunidade com imensa pluralidade racial, tendo se destacado inclusive com projetos de valorização da cultura afrodescendente, como o projeto “Consciência Negra” que é realizado anualmente e abraçado por toda a comunidade. A nossa escola ostenta, com imenso orgulho, o título de escola inclusiva, pelo trabalho que vem desenvolvendo no intuito de reduzir as diferenças, as limitações, proporcionando a todos os alunos um convívio amigável, respeitoso e harmonioso. Mais uma vez reiteramos que a escola não compactua com tais postagens e que, durante o exercício da função deste professor, nunca houve denúncia de atitude semelhante que tivesse chegado formalmente até à direção da escola. Tal fato nos entristece e o CEM 804 se solidariza com aqueles que se sentiram ofendidos de alguma forma.
Fonte: Revista Fórum