Projeto da Ufopa ajuda a combater racismo infantil

Debater o tema das relações raciais em escolas municipais de Santarém, incluindo as crianças e todos os que atuam nesses espaços. Esse é um dos objetivos do projeto de extensão “Kiriku – Relações raciais e literatura infantil nos Centros Municipais de Educação Infantil (CEMEIs) de Santarém”, desenvolvido pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) em parceria com o Instituto Ammapsique e Negritude. “O objetivo do nosso projeto é realizar um diagnóstico em três CEMEIs aqui da cidade de Santarém para poder avaliar e analisar como as relações raciais se dão nessas unidades educação infantil”, explicou o coordenador do projeto, Prof. Dr. Luiz Fernando França, ligado ao Instituto de Ciências da Educação (Iced). Ele informou ainda que o projeto pretende envolver toda a equipe que trabalha nos CEMEIs, como professoras, equipe de apoio, bem como as famílias. “Nós chegamos à conclusão que não tem como relações raciais ou uma pedagogia antirracista sem ouvir as famílias e ouvir também as crianças”, completou.

Além da avaliação e das análises a respeito do tema do racismo infantil, o projeto prevê também uma “intervenção pedagógica” a partir da literatura infantil, “tomando a literatura infantil como um instrumento de propagação do antirracismo, de uma pedagogia afrocentrada nos CEMEIs e também de outros instrumentos com potencial antirracista, como jogos, brinquedos e os instrumentos musicais”.

A afroteca é um desses instrumentos de “intervenção pedagógica” citados por França. “É um espaço educativo de acolher, brincar e cuidar de crianças com uma perspectiva ‘afrocentrada’ e antirracista. Temos jogos, brinquedos, instrumentos musicais, livros infantis e toda uma equipe que recebe as crianças em nossa afroteca, que é a primeira do estado do Pará, pensada para a infância, para acolher crianças nessa perspectiva”.

Mãe do garoto Raul, de 5 anos, a professora da Ufopa Thaisy Bentes fala da sua experiência com a afroteca. “Quando descobri a afroteca, estava passando por uma situação de racismo, com meu filho de cinco anos, na escola. Ele estava reproduzindo falas racistas e se achando feio, por ser preto. Foi um choque para mim, fiquei desesperada, sem saber o que fazer, além de ter diálogo com a escola”. Ela disse que soube da biblioteca por meio de um grupo de professores e passou a levar o filho à afroteca, uma vez por semana. “Raul amou o lugar. As meninas que auxiliam lá são maravilhosas, conversaram comigo, contei o que estava passando e elas indicaram filmes e histórias para ajudar na situação. O espaço passou a fazer parte dos nossos roteiros de passeios, e sempre que possível voltamos lá para que ele possar brincar”.

Para a professora, conhecer a afroteca, exatamente no momento em que estava lidando pela primeira vez com a situação na escola, foi essencial. “Tive forças para lutar contra a estrutura que quer tornar nossos filhos pretos inferiores”, e ela acrescenta ainda que “ter contato com a ancestralidade, conhecer nossa história tem ajudado cada vez mais a descobrir toda a nossa beleza e como enfrentar uma sociedade que tenta nos excluir diariamente”, concluiu.

França explicou ainda que a equipe do projeto está fazendo um levantamento sobre todas as situações de racismo detectadas entre as crianças na primeira infância: “Mais do que diagnosticar, nós queremos fazer uma intervenção pedagógica; estamos, na verdade, fazendo uma intervenção pedagógica pensando na promoção da igualdade racial e no combate ao racismo na infância”.

Inaugurações – Neste mês de novembro, mês da Consciência Negra, o projeto está inaugurando três afrotecas em CEMEIs de Santarém: “Nós temos feito um trabalho de investigação a partir da análise da voz das equipes que trabalham lá [CEMEIs], desde a professora, passando pelo vigia, pela cozinheira, pela gestora, sobre como ocorrem as relações raciais entre as crianças. Também estamos ouvindo as famílias que têm filhos nas creches e as próprias crianças para entender esse problema educacional, social e político do nosso país, que é o problema do racismo, que a gente discute pouco, sobretudo o racismo na infância, que é muito silencioso, mas é grave e existe”.

Debates necessários – Nos dias 13 e 14 de dezembro será realizado o minicurso “Por uma educação infantil antirracista: experiência de pesquisa e intervenção pedagógica afrocentrada no projeto Kiriku”. O minicurso ocorrerá em dois horários: 8h-12h (dia 13) e 14h-18h (dia 14), no Auditório do Theatro Victória. A inscrição é feita mediante colaboração com 2 quilos de alimentos não perecíveis.

Serviço:

A afroteca funciona de segunda à sábado no prédio do Theatro Municipal Victória, no centro de Santarém, e recebe visitas agendadas previamente;

Afroteca CEMEI Paulo Freire, inaugurada em 19/11/2022;

Afroteca CEMEI Antônia Corrêa, a ser inaugurada em 25/11/2022;

Afroteca CEMEI Maria Raimunda Pereira de Sousa, a ser inaugurada em 30/11/2022;

Fonte: Divulgação/ Ufopa

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