Três anos. Esse foi o tempo que o professor Petrônio Lauro Teixeira Potiguar Júnior, da Universidade do Estado do Pará (Uepa), levou para desenvolver sua tese de doutorado, uma pesquisa sobre as formas em que os homens indígenas da aldeia Mapuera (Terra Indígena Nhamundá Mapuera), no oeste do Pará, realizam o cuidado com a saúde e os desafios enfrentados para difundir os conhecimentos dos cuidados básicos na comunidade. Membro do Comitê de Ética em Pesquisa do Núcleo de Formação Indígena da Uepa, Petrônio morou nove meses na terra indígena e lá conheceu de perto a realidade quanto aos cuidados terapêuticos dos homens indígenas na atualidade.
Foi por meio da construção coletiva dos conhecimentos tradicionais acumulados ao longo dos anos, que os povos indígenas do Brasil desenvolveram inúmeras práticas de saúde e curas próprias em seu território.
Buscando compreender mais sobre esses conhecimentos, o professor se inseriu na realidade dos povos tradicionais para iniciar seus estudos. A tese, que levou três anos de pesquisa para ser concluída, classifica a participação de campanhas missionárias e os conhecimentos da medicina ocidental como transformadoras das concepções indígenas sobre saúde, doença e cura dos homens da comunidade.
“A aldeia se encontra em um processo de articulação entre os saberes tradicionais e a influência religiosas e culturais vindas de fora desde as décadas de 80 e 90. Identifiquei a existência de uma “intermedicalidade”, que é a articulação no processo da cura das doenças com a fé”, disse Petrônio.
Nesse sentido, o professor explica o que o levou a escolha desse tema: “a carência de estudos dessa temática na área da saúde. Sou antropólogo, mas durante sete anos, dei aula para os moradores da aldeia, no Campus de Santarém, e durante esse período percebi que a saúde do homem indígena não era uma temática tão discutida”, conta.
Segundo ele, os contatos dos indígenas da aldeia Mapuera com outros povos indígenas na região dos rios Trombetas e Nhamundá-Mapuera, a inserção da medicina ocidental pelo Estado brasileiro e o contato com evangelizadores da Igreja Protestante Batista, permitiram conexões dos conhecimentos e práticas de saúde, que influenciam o cuidados terapêuticos dos homens indígenas na atualidade.
Professor Petrônio argumenta que, para adentrar no “mundo masculino” e nos cuidados terapêuticos no processo da cura de doenças, foi necessário navegar pelo mundo feminino, pois é a família, na figura das mães, avós e bisavós, a principal fonte de repasse de conhecimentos e práticas sobre saúde as formas de cura, e da formação da pessoa masculina na aldeia.
Dentre as observações essenciais para desenvolvimento da pesquisa, o professor acompanhou as formas de tratamento de lesões e doenças realizadas na comunidade, o processo de preparo e aplicação dos medicamentos locais, o atendimento de um Agente Indígena de Saúde (AIS) e área interna do Posto Indígena de Saúde presente no território indígena.
A tese de doutorado baseou-se no método etnográficos e no enfoque teórico da Antropologia dialógica, em que palavras e gestos são utilizados para captar narrações, emoções e concepções de histórias de vida, com homens de diferentes faixas etárias. “Eu morei na aldeia durante nove meses com os indígenas. Fiz diversas entrevistas com os homens, lideranças, os que trabalham com a área da saúde e também com as mulheres, muitas vezes responsáveis por repassar os conhecimentos medicinais aos demais”, conta o antropólogo.
Reportagem: Messias Azevedo (Ascom Uepa)