Em 2022, o Pará registrou 631 mortes provocadas pela polícia. Esse é o primeiro estado da Região Norte a fazer parte do estudo Pele Alvo da Rede de Observatórios e já se coloca como a terceira unidade federativa com maior número de vítimas da violência de agentes de segurança, com um caso a cada 14 horas. O Pará superou em 50,60% o número de vítimas notificadas por São Paulo, mesmo tendo apenas um quinto da população paulista.
Esse é um dos dados que fazem parte no novo boletim Pele Alvo: a bala não erra o negro, que será divulgado no dia 16 de novembro. Há quatro anos a Rede de Observatórios monitora as informações sobre a cor da letalidade causada por ação policial a partir dos dados obtidos junto às secretarias estaduais de segurança pública via Lei de Acesso à Informação (LAI). Nesta edição, além de Pará, são avaliados os números e registros de Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo.
Este é o primeiro ano que o estado paraense é contemplado no monitoramento, sendo já o segundo com maior percentual de negros mortos em operações policiais, com 93,90% dos casos em que foram identificadas cor e raça das vítimas. Só fica atrás da Bahia, com 94,76% de casos nas mesmas condições. Os números reais podem ser diferentes, tanto pela subnotificação como pelo não registro de dados sobre cor e raça. No Pará, essa informação é omitida para 66,24% das vítimas. Outro dado que se destaca é a faixa etária dos mortos por agentes de segurança: em 66,87% dos casos as vítimas tinham entre 18 e 29 anos.
“Como pesquisador, observamos não apenas os dados, mas a mídia e, principalmente, a população diretamente afetada por essa violência. E quando conversamos com os familiares das vítimas, temos acesso às informações sistematicamente negligenciadas pelo governo. No Pará, temos uma política estadual que há 30 anos circula pela mesma família e que oferece poucas ações promotoras de segurança para a população negra, que é a grande maioria no estado e nas periferias”, diz Lucas Patrick, pesquisador do Observatório no Pará. “Quando identificamos informações de raça e cor, não é sobre violência sofrida, mas sim sobre quem cometeu um delito”, completa.
O principal epicentro da violência policial no Pará se concentra em Belém, a capital, que registrou 83 mortes por policiais, seguida pelo município de Parauapebas, distante 700 quilômetros, com 41 vítimas em 2022. Ananindeua, cidade que faz parte da Grande-Belém, vem em terceiro lugar com mais 35 casos.
A bala não erra o negro
O novo boletim Pele Alvo: a bala não erra o negro revela que a cada quatro horas uma pessoa negra foi morta, em 2022, pela polícia nos oito estados monitorados pela Rede de Observatórios da Segurança. Considerando os dados oficiais sobre raça e cor disponíveis, eram negros 87,35% (ou 2.770 pessoas) dos mortos por agentes de segurança estaduais no ano passado. Como nos estudos anuais anteriores, o novo monitoramento demonstra o alto e crescente nível da letalidade policial contra pessoas negras.
“São quatro anos de estudo e nos causa perplexidade e inquietação observar que o número de negros mortos pela violência policial continua a representar a imensa maioria de um total elevado de vítimas”, diz a cientista social Silvia Ramos, coordenadora da Rede de Observatórios. “Ainda lidamos com uma prática de negligenciamento do perfil dos mortos por agentes de segurança, fato que impacta diretamente no desenvolvimento de políticas públicas que possam mudar essa realidade e efetivamente trazer segurança para toda a população”, acrescenta.
As informações completas dos outros estados analisados no boletim Pele Alvo: a bala não erra o negro podem ser acessadas no site da Rede de Observatórios.
Fonte: Rede de Observatórios da Segurança.