Por: Ícaro Ambrósio
Um estudo publicado por pesquisadores brasileiros na revista Nature, em fevereiro deste ano, identificou que o garimpo aumentou 12 vezes, enquanto a mineração industrial cresceu cinco vezes no período de 2019 a 2022. O documento ainda indica que pelo menos 77% dos locais de garimpagem, dentro do período observado, atuavam com sinais explícitos de ilegalidade.
Paralelo a isto, um outro estudo, desta vez publicado na revista Science of the total Environment, identificou o impacto da mineração ilegal. As informações são que a execução de atividades minerárias desenfreadas foram responsáveis pela perda de ao menos 50% dos estoques de carbono no ar e pelo aumento de 70% da concentração de mercúrio no solo das regiões destacadas.
O impacto disso é catastrófico e se enquadra em pautas de diferentes estrofes. Vai desde a conflitos territoriais – muitos destes em terras demarcadas a população indigena -, passando por situações de exploração do trabalho e alcançando até mesmo em perdas irreparáveis para ecossistemas e nichos ambientais.

Na contramão disso, existe a mineração responsável, que nasce com um conceito que envolve práticas e princípios voltados para a extração de recursos minerais de forma sustentável, ética e consciente, minimizando os impactos negativos no meio ambiente, na sociedade e na economia. Cercada de tecnologias limpas e cumprindo rigorosamente com as regulamentações e atuando com transparência, busca também restaurar o respeito aos direitos humanos e às comunidades.
“O conceito de mineração responsável foi gradualmente formado à medida que se tornava evidente que, embora a mineração fosse essencial para a economia global, ela precisava ser realizada de maneira mais ética, sustentável e transparente. O crescente interesse em questões de responsabilidade social corporativa (RSC) e desenvolvimento sustentável no final do século XX ajudou a moldar esse conceito”, esclarece Pedro Portugal, engenheiro de minas e CMO (Chief Mining Officer) da Keystone
Pedro ainda esclarece que tais práticas responsáveis buscam promover a transparência nas operações, garantir a governança ética das empresas mineradoras e investir em tecnologias que minimizem o impacto ambiental, como o uso eficiente da água e a redução de poluição. “É uma abordagem que vai além do simples lucro, buscando um equilíbrio entre exploração e sustentabilidade para as gerações presentes e futuras. Importante também destacar que, quando regularizada, é mais fácil para os órgãos regulamentadores fiscalizar e indicar o caminho certo para a indústria extrativista naquela região”.
O mais curioso de tudo isso é que esse termo surgiu como uma resposta às crescentes preocupações sociais e ambientais relacionadas à indústria da mineração, especialmente entre os anos 1980 e 1990. Durante esse período, o setor enfrentou críticas devido aos impactos ambientais negativos, condições de trabalho precárias e à falta de atenção para as comunidades locais afetadas pelas atividades mineradoras.
Pelo menos 40 anos passaram e os problemas são parecidos. Porém a aplicação das práticas acompanhou o desenvolvimento do setor e tem paralelos tão importantes quanto a atenção para o desenvolvimento sustentável e seguro. Além da gestão ambiental, questões como segurança e saúde dos trabalhadores, respeito ao direito das comunidades, transparência e governança também aderiram à pauta como prioridade.
Ainda na década de 90, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) começou a criar e promover normas internacionais de trabalho que influenciaram a indústria da mineração, incentivando melhores condições de trabalho e proteção dos direitos dos trabalhadores. Foi então que grandes empresas mineradoras começaram a adotar códigos de conduta e compliance, comprometendo-se com a melhoria das práticas ambientais e sociais. Isso incluiu a implementação de práticas para minimizar danos ambientais e engajamento com as comunidades locais.
“Bom esclarecer que para que uma empresa tenha autorização para minerar seja qual área for, é necessário uma série de processos e procedimentos que viabilizam o serviço. Somado a isso, nós também construímos uma compliance e definimos rígidos critérios para a execução tanto do serviço quanto do relacionamento com as pessoas envolvidas. É assim que se combate o lado mal da mineração. Com respeito tanto pela terra, quanto pelas pessoas e valorizando a atuação das empresas sérias e comprometidas”, completa o CMO da Keystone.
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É jornalista