Nos dias 31 de julho e 1º de agosto, Santarém, no oeste do Pará, se torna palco de um importante encontro nacional: o Seminário “Plantas Medicinais, Fitoterápicos e COP30: Justiça Social, Saberes e Territórios da Floresta”. O evento será realizado no auditório do Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) e propõe um diálogo entre os conhecimentos tradicionais das comunidades amazônicas e a ciência contemporânea, em um contexto de preparação para a COP30, que será sediada em Belém.
A iniciativa é promovida por diversas instituições: Arquidiocese de Santarém (via Cáritas), Núcleo de Promoção da Igualdade Étnico-Racial (Nierac) do MPPA, Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), Custódia Franciscana São Benedito da Amazônia e o Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (CEAF) do Ministério Público. As inscrições estão abertas, tanto na modalidade presencial quanto virtual, e podem ser feitas pelo link https://ceaf.mppa.mp.br/app/learning/courses. A programação ocorre das 8h30 às 12h e das 14h às 18h nos dois dias.
A promotora de justiça Lilian Braga, coordenadora do Nierac, explica que o seminário quer fomentar a discussão sobre políticas públicas voltadas ao uso de plantas medicinais e fitoterápicos, com base em experiências já desenvolvidas na região do Baixo Amazonas — especialmente o projeto FarmaFittos.
“Queremos compreender e valorizar os saberes tradicionais de cura da nossa região e possibilitar que eles estejam disponíveis à população por meio do SUS. O cuidado com a saúde pode estar muito mais perto da nossa realidade amazônica do que imaginamos”, ressalta a promotora.
O professor Wilson Sabino, coordenador do FarmaFittos e docente da UFOPA, destaca que os saberes tradicionais da Amazônia resultam de séculos de convivência com a floresta. O uso de plantas medicinais pelas comunidades não é apenas um hábito cultural, mas um sistema complexo de cuidado com o corpo, a natureza e o território.
“Queremos construir uma ciência mais ética, diversa e colaborativa, que respeite o conhecimento tradicional, garanta os direitos das comunidades e traga benefícios reais, sem apropriação indevida”, afirma o professor. O seminário, segundo ele, busca ser esse espaço de aproximação entre profissionais da saúde pública, pesquisadores e guardiões do saber popular.
FarmaFittos: da solidariedade à soberania sanitáriaO projeto FarmaFittos nasceu em meio à pandemia de COVID-19, a partir da campanha “Doe Amor”, promovida pela Cáritas e pelas Irmãs Franciscanas de Maristella, para apoiar populações vulneráveis da região. A partir do uso tradicional de plantas para sintomas como insônia e ansiedade, a UFOPA foi chamada a contribuir com conhecimento técnico e científico, dando origem a uma proposta sustentável de fitoterapia comunitária.
Desde então, o projeto evoluiu e ganhou reforço institucional com a participação do Nierac, da Custódia Franciscana e da Arquidiocese. Hoje, FarmaFittos avança com a implantação de dois espaços emblemáticos:
A Sala de Transformação de Plantas Medicinais em Droga Vegetal, no Centro de Formação Emaús
O Espaço Laudato Si’, que será sede de uma futura Farmácia de Manipulação de Fitoterápicos
Essas estruturas consolidam a união entre universidade, comunidades tradicionais e políticas de saúde pública em favor da autonomia sanitária e da valorização dos saberes amazônicos.
O impacto do projeto já ultrapassa fronteiras regionais. Representantes do Ministério da Saúde e do Ministério do Desenvolvimento Agrário confirmaram presença em Santarém durante o seminário para conhecer o trabalho de perto. A visita está integrada à programação e reforça o potencial da experiência como modelo de política pública replicável em outras regiões do país.
“Quando falamos de justiça social e territórios da floresta, falamos de direitos: o direito de viver em suas terras, de cuidar de seus recursos naturais, de decidir sobre o próprio futuro”, reforça o professor Wilson.
O seminário será, portanto, mais que um evento técnico: será um chamado à escuta, ao respeito e à valorização da diversidade de saberes que sustentam a Amazônia, diante dos desafios impostos pelas mudanças climáticas, pelo extrativismo predatório e pela invisibilização histórica das populações tradicionais.