Por: Enrico Pierro*
Nem todo fim chega com barulho. Nem toda ruptura acontece em meio a gritos, portas batidas ou discussões sem fim. Tem amor que não explode — evapora. Vai saindo de cena devagar, pelos cantos, nas pequenas ausências, nas conversas que diminuem, nas mensagens que demoram, nos olhares que evitam o encontro. Ninguém fala em término, mas tudo termina.É difícil perceber esse tipo de fim, porque ele não vem com data, não vem com anúncio, não vem com drama. Vem com silêncio. Com a falta de vontade de dividir o dia. Com a preguiça de perguntar como o outro está. Com a sensação de estar sozinho, mesmo de mãos dadas. Você continua junto, mas já não está mais ali. E o outro também não.
O mais cruel desse tipo de separação é que não dá para apontar o momento exato em que tudo começou a sumir. Não dá para dizer “foi ali”. Porque não foi. Foi aos poucos. Foi naquele dia em que você se esforçou para conversar e a resposta veio fria. Foi quando você contou uma dor e a pessoa não ouviu direito. Foi quando você precisou de apoio e ela escolheu dormir cedo. Foi quando você começou a sentir que estava falando com alguém que não te reconhecia mais.
E ainda assim você ficou. Porque ninguém brigou. Ninguém foi embora. Ninguém confessou nada. Não teve traição, não teve escândalo. Só teve cansaço. Rotina. Desconexão. Distância. Tudo aquilo que a gente subestima até virar abismo.
O amor, quando se desfaz em silêncio, é mais difícil de encerrar. Porque não tem uma causa clara, não tem um culpado evidente, não tem o alívio do confronto. Tem só um acúmulo de pequenos vazios que vão comendo tudo por dentro. E, quando você percebe, não sente mais dor. Sente nada. Que, às vezes, é pior.
E aí vem a dúvida. Será que ainda dá para recuperar? Será que ainda tem jeito? Ou será que só restou o hábito, o medo de recomeçar, o apego ao que um dia foi? O silêncio, nesse ponto, já virou resposta. E, por mais que doa admitir, amor que precisa ser forçado para existir já não é amor — é insistência.
É preciso coragem para enxergar isso. Para aceitar que acabou mesmo sem ninguém ter dito. Para entender que a ausência de conflito não significa presença de afeto. Tem gente que fica por inércia, por conveniência, por medo. Mas isso não é amor. Amor de verdade é encontro, não manutenção.
Se você está aí tentando ressuscitar o que já não pulsa, talvez precise lembrar que amor, quando é real, não exige tanto esforço para continuar existindo. Ele pode dar trabalho, sim, mas não precisa ser reconstruído todo dia do zero.
E quando chega nesse ponto, talvez a pergunta não seja mais “como salvar?”, mas “por que ainda estou tentando?”.
E aí, sem ninguém gritar, sem ninguém bater a porta, o fim acontece. Porque o amor, às vezes, não vai embora. Ele só para de voltar.
@enricopierroofc

