PF mira deputado ‘Doido’ do MDB e investiga esquema milionário de corrupção no Pará

A Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira (16) uma operação de grande porte contra um suposto esquema de corrupção e lavagem de dinheiro que teria como um dos principais alvos o deputado federal Antônio Leocádio dos Santos (MDB), conhecido como Antônio Doido. A investigação aponta desvio de recursos públicos, incluindo verbas de emendas parlamentares, e envolve agentes públicos e privados.

Ao todo, 31 mandados de busca e apreensão foram cumpridos no Pará e no Distrito Federal, por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). Durante a ação em Brasília, o parlamentar teria arremessado o próprio celular pela janela do imóvel onde estava, numa tentativa de evitar a apreensão do aparelho pelos agentes federais.

Segundo a Polícia Federal, o grupo investigado atuava no desvio de recursos públicos, especialmente de emendas parlamentares e verbas estaduais, por meio de fraudes em licitações. O dinheiro, de acordo com a apuração, era utilizado para o pagamento de vantagens indevidas e para a ocultação de patrimônio, com o objetivo de mascarar a origem ilícita dos valores.

A PF apura a prática de corrupção eleitoral, corrupção ativa e passiva, crimes contra licitações, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Natural de Dom Macedo Costa (BA), Antônio Doido, de 49 anos, construiu sua trajetória política no Pará. Em 2022, foi eleito deputado federal com 126.535 votos. Antes disso, foi prefeito de São Miguel do Guamá, eleito em 2016 pelo PSDB, mas não conseguiu a reeleição em 2020.

Já filiado ao MDB, disputou a prefeitura de Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém, ficando em segundo lugar, sem avançar ao segundo turno, com 23.091 votos.

Em janeiro deste ano, um assessor parlamentar de Antônio Doido foi preso em flagrante pela Polícia Federal com R$ 1,1 milhão em dinheiro vivo, logo após realizar um saque em uma agência bancária no bairro Umarizal, em Belém. A prisão ocorreu após denúncia anônima que indicava que o valor seria usado para o pagamento de propinas a servidores públicos. Segundo a Justiça Federal, a corrupção se configurou no momento em que o dinheiro foi repassado ao assessor, servidor público à época.

As investigações ganharam novo fôlego em agosto, quando o ministro Flávio Dino autorizou a abertura de inquérito para apurar a atuação de uma suposta organização criminosa no Pará. O grupo é suspeito de realizar saques milionários, cometer crimes eleitorais e praticar corrupção em uma licitação de R$ 142 milhões relacionada à COP 30.

O pedido de investigação foi apresentado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, em fevereiro, e o inquérito foi oficialmente instaurado em março. A Procuradoria-Geral da República (PGR) aponta indícios de que o esquema seria comandado pelo deputado, que possui foro privilegiado no STF. Duas empresas centrais, cujos proprietários teriam ligação direta com o parlamentar, estariam no núcleo do esquema.

Diante das denúncias, a licitação acabou sendo suspensa. O governo do Pará, responsável pelo processo, afirmou que não houve irregularidades.

Deputado inelegível
Há cerca de duas semanas, a Justiça Eleitoral declarou Antônio Doido inelegível por oito anos, por abuso de poder político e econômico nas eleições municipais de 2024. A decisão ainda cabe recurso.

Segundo o Tribunal Regional Eleitoral do Pará (TRE-PA), ficou comprovado que o parlamentar utilizou recursos públicos oriundos de emendas parlamentares para promoção pessoal e influência direta sobre o eleitorado, caracterizando abuso de poder político.

O Quarto Poder não conseguiu contato com a assessoria do parlamentar. O espaço segue aberto para os devidos esclarecimentos.

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