Alter do Chão, em Santarém, no oeste do Pará, viveu, no último fim de semana, dias de intensa celebração da diversidade cultural e da força do movimento LGBTQIAPN+ amazônida. O Festival Amazônia Queer encerrou sua edição no sábado com casa cheia, forte participação do público e uma programação que cruzou tradição e contemporaneidade, unindo saberes ancestrais, música popular, experimentação artística e afirmação de identidades. Realizado no Espaço Alter, o evento consolidou a vila balneária mais famosa da Amazônia como território vivo de criação, resistência e protagonismo cultural no Norte do Brasil.

A abertura do festival aconteceu em clima de raiz e pertencimento, durante a tradicional roda de carimbó Quinta do Mestre. Quem esteve por lá acompanhou as apresentações do Coletivo de Mestres de Alter do Chão, do Boto Tucuxi e do Boto Cor-de-Rosa, que levaram à arena as cores, os ritmos e as alegorias do Sairé.
Na sequência, os shows das Karuana e das Suraras do Tapajós reforçaram a potência feminina, indígena e LGBTQIAPN+, conectando ancestralidade e luta contemporânea. O encerramento da primeira noite ficou por conta do Ballroom comandado pela DJ Pedrita, um dos momentos mais emblemáticos do festival, em que corpos, performances e disputas celebraram o orgulho queer em clima de liberdade e reconhecimento.

No segundo dia, Alter do Chão voltou a pulsar ao som dos DJs que prepararam o público para o show de Raidol, um dos grandes destaques do evento. Com um espetáculo intenso de pop amazônico, a artista entregou uma apresentação marcada por sensualidade, romantismo e batidas dançantes, reafirmando novas estéticas da música produzida na região. A noite seguiu com o astro do brega Jimy Herison, que levou clássicos do Pará ao palco e fez o público cantar e dançar, mostrando que a diversidade também se expressa nos gêneros populares que atravessam gerações.

O terceiro e último dia reuniu novamente DJs no Palco Tambaqueer, com destaque para A Princesinha do Xingu, que veio de Altamira para abrir a pista. O ponto alto da noite foi o show de Rawi, cantore de Santarém, em uma apresentação catártica, experimental e carregada de emoção. Em seguida, AQNO levou ao palco uma mistura vibrante de hits autorais, bregas paraenses e reggae, enquanto o encerramento ficou sob o comando da DJ Noologia, de Manaus, com um set futurista que ampliou as fronteiras sonoras do festival.

Além dos shows, o Festival Amazônia Queer promoveu, ao longo dos três dias, rodas de conversa sobre inclusão e políticas públicas, feira criativa e exposições de arte, fortalecendo a economia criativa e dando visibilidade a empreendedores e artistas locais. Mais do que um evento cultural, o festival se afirmou como um movimento coletivo, onde arte, política, afeto e território caminham juntos.

Ao final, Alter do Chão não apenas sediou um festival: tornou-se voz, corpo e palco de um Amazônia Queer que dança, canta, debate e resiste. Entre tambores, beats eletrônicos e bandeiras coloridas, ficou a certeza de que a diversidade floresce como a própria floresta, múltipla, indomável e profundamente viva.



