Do ponto de vista psicológico, o Natal carrega um forte ideal social de harmonia, união e felicidade. Porém, quando a realidade não corresponde a esse ideal, surgem as frustrações, transformando as festas em um terreno fértil para desentendimentos. “O excesso de convivência em pouco tempo, somado ao cansaço emocional do ano, favorece a reativação de conflitos antigos que estavam apenas ‘silenciosos’, mas não resolvidos”, explica a psicóloga Emanuelle Castro, docente do curso de Psicologia da UNAMA Santarém.
Fatores como histórias afetivas longas e conflitos não elaborados, unidos aos papéis sociais familiares que, muitas vezes, já estão cristalizados, tornam o cenário instável. Devido à carga emocional acumulada, os pequenos comentários ganham proporções maiores durante as reuniões, gerando um ambiente de vulnerabilidade emocional entre os parentes.
Para enfrentar gatilhos, como discussões políticas, a psicologia aponta que nem a submissão constante nem o confronto agressivo são caminhos saudáveis. O ideal é o desenvolvimento de uma comunicação assertiva e não-violenta, estabelecendo limites de forma clara. Frases como “prefiro não falar de política” ou “o momento é sobre família” ajudam a proteger a saúde emocional sem alimentar o embate direto.
Ao lidar com cobranças sobre a vida pessoal, a inteligência emocional envolve reconhecer o próprio desconforto e escolher a resposta mais adequada. “Ao invés de reagir impulsivamente, a pessoa pode usar respostas breves e neutras ou até humor leve, sem entrar em justificativas longas”, orienta Emanuelle. Ela reforça que estabelecer esses limites faz parte do autocuidado e da preservação da dignidade emocional de cada um.

Mediação e fatores de risco
O anfitrião exerce uma função fundamental de regulador do ambiente. Propor atividades, músicas ou dinâmicas que favoreçam temas neutros e afetivos são estratégias eficazes para manter o clima leve. Ao surgir uma tensão, a recomendação é mudar de assunto com naturalidade ou, em casos de desavenças conhecidas, evitar o contato prolongado entre as partes envolvidas.
Além das relações, o consumo de álcool e drogas surge como um agravante, pois diminui os filtros sociais e facilita reações exageradas. “A moderação é uma estratégia de autocontrole. Quanto mais preservadas estiverem as funções de autorregulação, menor a chance de uma conversa trivial evoluir para um conflito aberto”, ressalta a especialista, lembrando ainda que o período de luto e melancolia deve ser acolhido sem a exigência de uma felicidade forçada.
Técnica prática para o controle emocional
Para recuperar a calma em momentos de estresse agudo na mesa da ceia, a psicóloga sugere a técnica da respiração 4-6: inspirar pelo nariz contando até quatro e expirar lentamente pela boca contando até seis. Essa prática ativa o sistema parassimpático e ajuda a reduzir a ativação fisiológica do estresse, permitindo retomar o equilíbrio.
Ao identificar sinais de sobrecarga, como irritabilidade e fadiga, é essencial buscar apoio e respeitar o próprio ritmo. “Enquanto o oxigênio faz seu caminho, vale lembrar que colocar-se no desconforto para preservar o outro nem sempre é a melhor opção”, conclui Emanuelle Castro.
Fonte: Divulgação Unama

