Hospital Materno Infantil de Santarém segue inacabado enquanto mães e bebês aguardam por atendimento digno

Após 12 anos de promessas, atrasos e desperdício de dinheiro público, a obra do Hospital Materno Infantil de Santarém, no oeste do Pará, continua sendo um símbolo do descaso com a saúde pública e da falta de compromisso das autoridades. Iniciada em 2013, ainda na gestão da ex-prefeita Maria do Carmo, a construção passou pelas mãos de diferentes governos, enfrentou paralisações, trocas de empresas e contratos desfeitos — mas o que não mudou foi a angústia da população, que segue sem acesso a uma unidade especializada para atender mães e recém-nascidos da região.

Nesta sexta-feira (27), mais uma vez, o governador Helder Barbalho esteve em Santarém para anunciar a retomada da obra. A promessa da vez: entregar o hospital em junho de 2026, no aniversário de 365 anos do município.

“Em 12 meses estaremos inaugurando o Hospital Regional Materno-Infantil de Santarém. Serão 128 leitos, sendo 45 de UTI. Vamos descentralizar o atendimento e garantir assistência a toda a região do Baixo Amazonas”, disse o gestor estadual.

Porém, o histórico da obra não permite tanto otimismo. A construção, que deveria ter sido entregue em 2014, já custou mais de R$ 40 milhões aos cofres públicos, mesmo tendo sido orçada inicialmente em R$ 23,3 milhões. Em vez de avanço, o que se vê são promessas recicladas, burocracias que se arrastam, contratos rompidos e licitações refeitas — sempre com novas justificativas.

Em janeiro de 2023, a Prefeitura de Santarém rompeu contrato com a empresa Contarpp, alegando descumprimento de prazos. No fim do mesmo ano, o Município anunciou nova licitação e retomada da obra com a empresa Marco X Construtora, de Marabá, que assumiu a responsabilidade pelos 32% restantes da obra, com aporte de R$ 16 milhões. Mesmo assim, nenhuma entrega foi feita até agora.

A situação levou o Ministério Público Federal (MPF) a intervir em diversos momentos. Em 2019, ingressou com ação civil pública cobrando cronograma e plano de recuperação da estrutura deteriorada. Em abril de 2024, o MPF voltou à Justiça exigindo um novo cronograma detalhado, além da apuração do aumento exorbitante dos custos da obra.

“Como uma obra orçada em R$ 23 milhões já consumiu R$ 40 milhões e segue inacabada? Onde está a responsabilidade com o dinheiro público?”, esse foi um dos questionamentos feitos pelo Sindmepa, sindicato que acompanha a ação judicial.

Enquanto isso, a falta de estrutura hospitalar atinge diretamente gestantes e bebês. Santarém tem apenas 1,41 leito por mil habitantes, bem abaixo da recomendação do SUS, que é de 2,5 a 4 leitos. O Hospital Materno Infantil seria peça-chave para aliviar essa pressão e reduzir a mortalidade materno-infantil em toda a região oeste do Pará, que abrange cerca de 20 municípios vizinhos.

O cenário é alarmante: anos de promessas não cumpridas, dinheiro desperdiçado, e famílias inteiras desassistidas. O que se viu nesta sexta-feira foi mais um anúncio, mais uma cerimônia política, quando o que a população precisa é de ações concretas e responsabilidade com a saúde pública.

A pergunta que permanece é: Dessa vez, o hospital sai do papel? Ou será mais um capítulo da longa novela de descaso com a vida e a dignidade da população no Baixo Amazonas?

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