A Câmara de Vereadores de Santarém, ao aprovar o projeto de lei do prefeito José Maria Tapajós que batiza o Parque da Cidade com o nome de Anivaldo Juvenil do Vale, comete um erro simbólico e político que não passou despercebido pela população. A escolha do nome de um ex-deputado federal, falecido e sem nenhuma ligação afetiva ou histórica com Santarém, soa como um desrespeito à memória coletiva da cidade e às figuras que verdadeiramente construíram sua identidade aqui.
Anivaldo Vale pode até ter contribuído, de forma indireta, com a liberação de recursos para o parque quando exercia cargo público. No entanto, isso não o torna automaticamente merecedor da honra de nomear um dos espaços mais simbólicos e frequentados da Pérola do Tapajós. Ao contrário: a escolha ignora personalidades santarenas que deixaram marcas profundas na cultura, na educação, na saúde, no esporte e na política local — gente da terra, com serviços prestados à população e com quem os santarenos se identificam.
O que está em jogo aqui não é apenas um nome. É a representatividade. É a construção simbólica de uma cidade que reconhece, reverencia e se orgulha de seus filhos. O Centro de Convenções Sebastião Tapajós, a Escola Técnica Francisco Coimbra Lobato, o Terminal Hidroviário Joaquim da Costa Pereira, o Aeroporto Maestro Wilson Fonseca, o Centro Cultural João Fona, e tantos outros espaços nomeados com figuras locais mostram que Santarém sabe homenagear seus próprios heróis. Por que abrir uma exceção?
A sensação que fica é a de um gesto político de retribuição, talvez por vínculos partidários ou compromissos institucionais. Anivaldo é pai de Lúcio Vale, atual presidente do TCM do Pará, instituição que fiscaliza prefeituras e câmaras municipais — inclusive a de Santarém. A decisão, portanto, levanta suspeitas, desagrada boa parte da opinião pública e compromete a imagem tanto do prefeito quanto dos vereadores que votaram a favor.
A escolha foi feita de costas para a cidade e para sua gente. Faltou sensibilidade, diálogo, escuta. Sobrou vaidade e subserviência política.
Em tempos de tanto descrédito com as instituições, não custa lembrar: nomes de ruas, escolas, praças e parques não são favores ou moedas de troca. São símbolos da nossa memória coletiva e devem ser tratados com a seriedade que merecem.
Ainda há tempo de corrigir esse equívoco. O prefeito Zé Maria pode, e deve, recuar. Seria um gesto de grandeza. E, sobretudo, de respeito por Santarém.