O despertar de Alter do Chão para o Sairé 2025


Ainda nem o sol nasceu, e Alter do Chão já desperta em festa. São 4h30 da madrugada de quinta-feira, 18 de setembro, quando os primeiros fogos cortam o silêncio da vila. A alvorada anuncia: começou o Sairé. A comunidade se levanta cedo, como quem carrega um compromisso antigo, daqueles que não se rompem com o tempo.

Logo, os cortejos ganham as ruas da vila. Juízes e procuradores são buscados com cantos e passos ritmados, e o barracão se abre para receber mastros que parecem dialogar com o céu.

O Sairé não é apenas uma festa. É memória viva, herança do povo Borari que se encontrou, séculos atrás, com a religiosidade trazida pelos jesuítas. Daquele encontro nasceu um rito que atravessou gerações, resistindo à pressa do mundo moderno e se firmando como uma das mais belas expressões culturais do Pará.

Em 2025, o tema escolhido, “Cecuiara da Tradição”, carrega no nome a essência da coletividade. Cecuiara é lugar de encontro, de partilha de saberes, de nascimento e de continuidade. É o que se vê nas ruas de Alter: a juventude aprendendo com os mais velhos, o turista encantado com a fé da comunidade, a dança que mistura o sagrado e o profano.

Durante cinco dias, a vila vive outro tempo. Na sexta e no sábado, ritos e cortejos se repetem como reza. No domingo, a ladainha traz o peso da devoção, enquanto o rito de agradecimento reforça o elo entre fé e gratidão. E, na segunda-feira, quando os mastros caírem e o tarubá for distribuído, o ciclo se fecha para abrir-se de novo no próximo ano.

Entre o batuque do Macucauá, a irreverência da Desfeiteira, a energia do Quebra-Macaxeira e o som vibrante de Espanta Cão com Caldo de Piranha, o Sairé prova que Alter do Chão é mais que destino turístico: é território da cultura, da memória e da fé.

Alter não dorme, Alter celebra. E o Sairé, mais uma vez, mostra por que é, ao mesmo tempo, raiz e futuro.

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