No Brasil, a Atenção Primária à Saúde (APS), com suas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), funciona como a principal porta de entrada e a primeira linha de cuidado no Sistema Único de Saúde (SUS). E, no combate ao câncer de mama, essa estrutura se torna a ferramenta mais eficaz para a prevenção e o diagnóstico precoce.
Para entender a relevância desse papel, a enfermeira Ingrid Leite, especialista em Saúde Coletiva e docente da UNAMA Santarém, detalha como a Estratégia Saúde da Família está estruturada para acolher e rastrear as mulheres, garantindo que o cuidado chegue à todas.
Segundo Ingrid Leite, a Equipe de Saúde da Família tem o papel fundamental de orientar, acolher e acompanhar as mulheres. Os Agentes Comunitários de Saúde (ACSs) são peças-chave, atuando diretamente nas comunidades, garantindo a vigilância e o encaminhamento oportuno.
“Os ACSs são essenciais porque estão próximos das famílias, identificando aquelas em idade de rastreamento e reforçando a importância da mamografia e da consulta regular. É um trabalho contínuo de educação em saúde e encaminhamento”, explica a especialista.
A orientação na APS também aborda o autoconhecimento corporal. Embora o autoexame não seja mais o método isolado de rastreamento, ele continua importante para que a mulher conheça seu corpo. “O foco é empoderar a paciente para que reconheça sinais de alerta, como caroços, retrações, secreções ou mudanças na pele, e procure a UBS assim que perceber algo diferente”, reforça a enfermeira.
Busca ativa
A mamografia de rastreamento, recomendada pelo SUS para mulheres de 40 a 74 anos a cada dois anos, depende diretamente da organização da Atenção Primária. É a UBS que realiza a busca ativa, identifica o público-alvo, faz a orientação e agenda o exame pelo sistema de regulação.
A especialista destaca a importância da capilaridade da Estratégia Saúde da Família como uma das maiores conquistas do SUS no Outubro Rosa. “A Estratégia de Saúde da Família está presente em praticamente todos os municípios do país, garantindo acesso gratuito a consultas, exames de rotina e mamografia. Além disso, campanhas como o Outubro Rosa mobilizam as equipes e aproximam a comunidade dos serviços”, pontua.
Ainda que o diagnóstico precoce aumente drasticamente as chances de cura, o sistema enfrenta desafios. Ingrid Leite cita a demanda reprimida para exames complementares, o tempo de espera para a consulta especializada e a dificuldade em alguns municípios para a agilidade do laudo da mamografia.
Apesar disso, o SUS tem fortalecido a integração entre atenção primária e especializada para reduzir o tempo entre a suspeita e o tratamento. “Quando há suspeita de alteração na UBS, a paciente é encaminhada pelo sistema de regulação para a média complexidade, onde realiza exames e consultas com o mastologista. Esse fluxo é estruturado para garantir a continuidade do cuidado”, esclarece.
A enfermeira ressalta que a baixa adesão aos exames de rotina, muitas vezes motivada pelo medo do diagnóstico, ainda é um problema. Contudo, o aconselhamento na UBS é vital para quebrar essa barreira. “Profissionais explicam que o diagnóstico precoce aumenta as chances de cura e possibilita tratamentos menos agressivos. Uma conversa acolhedora faz a mulher vencer o medo e realizar o exame”, afirma.
Ações de promoção da Saúde
A Atenção Primária atua de forma integral, combatendo também os fatores de risco. “Isso inclui ações de incentivo à prática de atividade física, orientações nutricionais, controle do peso e redução do consumo de álcool, que são abordados nas consultas e em grupos educativos”, explica Ingrid Leite.
Para finalizar, a especialista deixa uma mensagem de encorajamento: “Cuidar de si é um ato de amor-próprio. O SUS está de portas abertas para acolher todas as mulheres, com profissionais preparados. Procure a UBS mais próxima, não espere sentir sintomas. A prevenção salva vidas, e o diagnóstico precoce faz toda a diferença no tratamento do câncer de mama”.