Por: Minelle Louise Sousa Santos*
O Brasil registra hoje uma das maiores diversidades culturais do planeta. Segundo dados divulgados nesta sexta-feira (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Censo Demográfico 2022 revelou que o país conta com 391 etnias indígenas, um aumento expressivo de 86 novos povos em relação aos 305 registrados em 2010. No Pará, quarto estado com maior diversidade do país, foram identificadas 222 etnias, com destaque para municípios do oeste paraense, como Santarém, Jacareacanga, Oriximiná e Belterra.
O levantamento do IBGE mostra que o número de línguas indígenas faladas no Brasil também cresceu, passando de 274 para 295 em 12 anos. Dos 1,7 milhão de indígenas identificados, cerca de 1,2 milhão declararam sua etnia, reforçando o fortalecimento da identidade e da representatividade dos povos originários no país. O Pará se destaca nesse cenário como um dos estados com maior riqueza étnica e linguística, abrigando comunidades diversas espalhadas principalmente na região do Tapajós e do Xingu.
Entre os municípios do oeste do Pará, Santarém aparece na liderança, com 12.058 pessoas indígenas, pertencentes a 87 etnias e falantes de 28 línguas diferentes, o que faz do município um dos mais plurais da Amazônia. Em seguida, Oriximiná reúne 2.301 indígenas, distribuídos em 38 etnias e 17 línguas faladas, consolidando-se como um importante território de convivência entre diferentes povos. Já Belterra possui 1.322 indígenas, de 32 etnias e falantes de quatro línguas, enquanto Aveiro abriga 1.776 indígenas, pertencentes a 14 grupos que utilizam quatro idiomas nativos.
Outro destaque é Jacareacanga, com 7.724 indígenas, representando 28 etnias e 11 línguas, reflexo da forte presença de comunidades tradicionais na região do médio Tapajós. Municípios menores também apresentam importante diversidade, como Rurópolis (245 indígenas, 21 etnias e quatro línguas), Trairão (276 indígenas, 15 etnias e três línguas) e Mojuí dos Campos (191 indígenas, 16 etnias e uma língua falada). Mesmo com populações menores, cidades como Placas, Alenquer, Prainha e Terra Santa preservam comunidades indígenas que mantêm vivas suas tradições linguísticas e culturais.

Em escala nacional, o Censo identificou 474.856 pessoas de dois anos ou mais que falam alguma língua indígena. As línguas com maior número de falantes são Tikúna (51.978), Guarani Kaiowá (38.658) e Guajajara (29.212), esta última presente também em comunidades do Pará. Entre os povos mais populosos do país estão os Tikúna (74.061 pessoas), seguidos pelos Kokama (64.327) e Makuxí (53.446).
O estudo do IBGE mostra ainda que, embora o número absoluto de falantes de línguas indígenas tenha aumentado, o percentual em relação à população indígena total diminuiu de 37,35% em 2010 para 28,51% em 2022. Por outro lado, dentro das Terras Indígenas, o uso dos idiomas nativos cresceu, passando de 57,35% para 63,22%, o que demonstra o fortalecimento das práticas culturais e linguísticas em áreas de maior preservação e autonomia.

Os dados do Censo 2022 confirmam que o oeste do Pará é hoje um dos principais polos de diversidade étnica e linguística da Amazônia, com comunidades que mantêm viva a herança ancestral dos povos originários, reforçando a importância das políticas públicas de valorização, preservação e promoção das línguas e culturas indígenas brasileiras.
É estudante de jornalismo*

