Povos do Tapajós firmam aliança pela defesa das águas em encontro no território Manoki, em Mato Grosso

Representantes de povos indígenas, comunidades tradicionais, movimentos sociais e organizações da sociedade civil do Pará e Mato Grosso se reuniram em outubro de 2025 na Aldeia Cravari, no Território Indígena Manoki, em Brasnorte (MT), para participar do 2º Encontro das Águas, Fortalecendo e buscando estratégias para uma gestão participativa da Bacia Hidrográfica do Tapajós. O evento, que reuniu cerca de 60 participantes, consolidou a criação da Aliança Tucum pelas Águas, uma união em defesa dos rios, da vida e da sociobiodiversidade amazônica.

Durante três dias de imersão, os participantes refletiram sobre os desafios que ameaçam a Bacia do Tapajós, como dragagens, hidrelétricas, garimpo ilegal e mudanças climáticas, e construíram coletivamente caminhos para uma gestão participativa das águas, valorizando os saberes tradicionais em diálogo com o conhecimento técnico e científico.

A Aliança Tucum pelas Águas, nome escolhido de forma coletiva durante o encontro, simboliza o compromisso de fortalecer a atuação política e social dos povos indígenas e das comunidades tradicionais da bacia, garantindo que suas vozes sejam ouvidas nos processos de decisão sobre políticas públicas e gestão ambiental.

Segundo Trícia Oliveira, líder de Cidadania Ativa do WWF-Brasil, o fortalecimento dessas redes é essencial para o futuro da região. “Para o WWF-Brasil, apoiar iniciativas como o Encontro das Águas é essencial para fortalecer a participação social qualificada e a defesa dos rios. No ano passado, ajudamos a abrir um caminho coletivo; agora, no território Manoki, vemos essa trajetória se consolidar com novos compromissos e alianças”, destacou.

O encontro teve momentos de grande significado simbólico, com rituais tradicionais, rodas de diálogo inter-regionais, plenárias e apresentações culturais que celebraram a diversidade e reafirmaram a espiritualidade e a ligação ancestral dos povos com as águas. O encerramento foi marcado pela leitura da Carta Coletiva da Aliança Tucum pelas Águas, documento que reafirma a união entre os povos e organizações e lança um pacto em defesa da bacia do Tapajós.

Na carta, as lideranças denunciam o agravamento das ameaças socioambientais e reforçam o compromisso com uma governança construída a partir das bases, baseada na escuta, na formação e na comunicação popular. O texto também reafirma a defesa dos rios, das florestas e das futuras gerações, consolidando a Aliança Tucum como um instrumento de resistência e esperança.

Para Tipuici, liderança do povo Manoki e integrante da Rede Juruena Vivo, o evento foi um marco para o território. “Receber o 2º Encontro das Águas é muito importante porque traz mais informações para dentro do território e abre espaço de participação para quem não tem oportunidade de sair daqui. Também dá visibilidade às nossas lutas locais e fortalece a troca de experiências com outros povos”, afirmou.

Já Deroní Mendes, coordenadora do Programa de Transparência e Justiça Climática do Instituto Centro de Vida (ICV), destacou os avanços conquistados desde o primeiro encontro, realizado em 2024, em Alter do Chão (PA). “As pessoas estão se sentindo parte do projeto e assumindo o protagonismo na construção dos debates. Essa aliança pode se tornar tão forte a ponto de influenciar políticas em nível local, estadual e até nacional”, ressaltou.

O 2º Encontro das Águas foi liderado pela Rede Juruena Vivo (RJV) e pelo Instituto Centro de Vida (ICV), com apoio do Movimento Tapajós Vivo (MTV), da Federação dos Povos Indígenas do Estado do Pará (Fepipa) e do WWF-Brasil. A iniciativa integra o projeto “Rumo a uma Gestão Participativa das Águas na Bacia do Tapajós”, financiado pelo Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha, por meio da rede WWF.

Mais do que um evento, o Encontro das Águas reafirma o protagonismo dos povos da Amazônia na construção de soluções coletivas e sustentáveis, fortalecendo o elo entre os que vivem, cuidam e lutam pela vida das águas do Tapajós.

Fonte: Kamila Sampaio I Movimento Tapajós Vivo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *