O mercúrio (Hg) é considerado um dos metais pesados mais perigosos para o ambiente e para a saúde humana devido à sua alta toxidade. O ecossistema amazônico possui altas concentrações de mercúrio por conta da ação de garimpos, desmatamentos, incêndios florestais, exploração madeireira, mudança no uso da terra e instalação de usinas hidrelétricas. Como consequência, a contaminação mercurial pode causar uma variedade de efeitos tóxicos adversos para a saúde humana, afetando diferentes órgãos e impactando a economia de populações tradicionais.
Para discutir esses impactos e mobilizar a sociedade para a construção de propostas de políticas públicas para região, em especial para as populações tradicionais, será realizado o Seminário Virtual “Mercúrio na bacia do Tapajós: impactos na saúde e na economia das populações tradicionais” que reúne a participação de diferentes instituições da sociedade civil: Caetano Scannavino (Projeto Saúde e Alegria), Antônio José Bentes (SAPOPEMA), Darcilene Godinho (GDA), Professora Dra. Heloisa Nascimento (UFOPA), Prof. Dr. Paulo Basta (Fiocruz), Dr. Erik Jennings, Karo Munduruku – representante indígena, Luiz Vinhote “Lulu” (MOPEBAM), Gracivane Rodrigues (STTR- SANTARÉM), Paulo de Tarso (MPE), Ione Nakamura (MF), Airton Faleiro (Deputado Federal) e Sérgio Leitão (Instituto Escolhas).
“O enfrentamento da problemática da contaminação mercurial da Bacia do Tapajós pela sociedade civil organizada e movimentos sociais, é uma discussão urgente, necessária e inadiável. A realização deste seminário para discussão dessa temática nos dias 01 e 02/06, com especialistas, lideranças das comunidades da região, entidades da Sociedade Civil e Movimentos Sociais, será fundamental para o nivelamento de informações, retomada deste processo que temos discutido desde a década de 1990 e pensar em ações mitigadoras. Estamos diante de uma situação grave de contaminação mercurial da Bacia do Tapajós e de exposição da saúde humana a esta problemática. A realização do seminário é um esforço de várias entidades parceiras e será um momento especial para que os participantes tenham contato com esta situação e ajude nos encaminhamentos de ações para o enfrentamento desse problema na região” – esclareceu Antônio José Bentes, da coordenação da Sapopema.
Para o coordenador do Projeto Saúde Alegria, Caetano Scannavino é entender como ocorre a contaminação para entender seus reflexos nas comunidades: “Até que ponto as populações convivem com alto nível de mercúrio no corpo e permanecem assintomáticas? Às vezes uma criança vai mal na escola e sofre bullying e na verdade é algum sintoma em função de níveis de mercúrio. Até que ponto os casos de problemas na perna de crianças e paralisia pode ser mercúrio ou pode ser vacina, pois, o lugar tem a pior cobertura vacinal” – ressalta.
O evento é uma realização da Sapopema, Mopebam, Projeto Saúde e Alegria, Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras de Santarém, Universidade Federal do Oeste do Pará, Lepimol/Ufopa, Conselho Pastoral dos Pescadores, WWF, Fórum Nacional Permanente em Defesa da Amazônia, Grupo de Defesa da Amazônia, Conselho Indígena Tapajós Arapiuns e Pastoral Social.
As inscrições serão feitas até o dia 28/05 neste link. Os inscritos receberão o link de acesso duas horas antes do evento. Serão concedidos certificados de participação aos inscritos que preencherem o formulário durante o evento que será realizado em duas tardes. Confira a programação abaixo com temas, participantes e horários.
Impactos do mercúrio
Na saúde, os sintomas e efeitos da exposição ao mercúrio são inúmeros e vão desde a simples perda de sensibilidade nas extremidades dos pés e das mãos, até a perda parcial da visão e total da audição. Alguns exemplos de sintomas decorrentes da exposição mercurial são o retardo no crescimento, na fala, no andar e no desenvolvimento intelectual, deficiência de concentração, insanidade, distúrbios visuais e cegueira, alucinações, tremores, fraqueza muscular, ataxia, paralisia, coma, depressão, dispneia, hipertensão, taquicardia, perda de audição, de memória e de sensibilidade, gastroenterite, pneumonia e morte.
Segundo a professora doutora da Ufopa, Heloisa Nascimento que desenvolve pesquisa na região, alguns resultados na Bacia do Tapajós se mostraram muito preocupantes:
73,5% dos participantes apresentaram níveis de mercúrio acima do recomendado pela OMS, com um nível médio de mercúrio de 48,5ug/L.
18 participantes de comunidades ribeirinhas do Rio Tapajós, apresentaram níveis de mercúrio acima de 300ug/L.
A maioria dos participantes expostos tem idade entre 41 e 60 anos.
A maioria dos participantes expostos são do sexo feminino, no entanto, os níveis mais altos são encontrados nos homens.
A maioria dos participantes tem até 12 anos de estudo (educação básica);
A maioria dos participantes relatou consumo diário ou frequente de peixe e nestes grupos as médias de mercúrio foram acima do recomendado pela OMS.
Alguns dos sintomas relatados entre os participantes expostos podem ser os primeiros sinais dos efeitos da exposição mercurial.
Ascom Sapopema/Saúde e Alegria