No dia 19 de novembro é celebrado o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, data importante para evidenciar e valorizar as mulheres como protagonistas no campo empresarial. Afinal, não é de hoje que o público vem se tornando uma realidade no mundo dos negócios. Segundo dados do Sebrae, o número de empresárias atuando no mercado já corresponde a 9,3 milhões, o que equivale a 34% do mercado geral do país. Só no Distrito Federal, já são mais de 119 mil empreendedoras.
Durante a pandemia elas cresceram mais ainda. Isso é o que revela uma pesquisa feita pelo Sebrae com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Segundo os dados, 71% das mulheres afirmaram ter usado recursos para inovar em seus negócios durante a crise. Em contrapartida, somente 63% dos homens disseram ter investido em mudanças nesse sentido.
Foi durante a quarentena da Covid-19 que a marca brasiliense LUMAS surgiu, depois de Fernanda Sales decidir tirar um sonho antigo do papel de criar uma camiseteria com frases de empoderamento feminino. “Desde 2014, tinha vontade de montar um negócio de camisetas com frases para despertarem e apoiarem mulheres. E, ano passado, mesmo em meio a crise da pandemia, dei o pontapé inicial. Aproveitamos que o mundo todo estava migrando para o digital, então, o investimento para abrir uma loja caiu bastante. Foi a hora certa”, explica Fernanda.
A marca, lançada no meio de 2020, ressalta, ainda, a importância econômica e sustentável. Os produtos da empresa buscam a valorização da cultura local e possuem matéria-prima eco-friendly (em inglês, amigo do ambiente).
“Pessoalmente, foi uma realização muito grande. Sempre tive vontade de abrir um negócio focado no protagonismo da mulher. Uma marca de mulheres para mulheres e conseguir fazer deste propósito uma fonte de renda é realizar o sonho”, comemora Fernanda.
Visionária e apaixonada por Brasília, Mariluce Cordeiro foi uma das que se arriscou neste período de pandemia. A ex-bancária, que empreende na capital federal desde 2001, abriu mais uma unidade da Microsom. Atualmente, a diretora geral da empresa coordena quatro unidades.
Mariluce investiu na internet para manter o contato e os laços com os pacientes. A empresária implementou as vendas pelo WhatsApp Business, Facebook, delivery, além do site. No total, fizeram cerca de 200 a 300 atendimentos em todo o período. E mesmo em meio à crise e as incertezas do momento, a empresária arriscou-se e inovou.
“Fomos na contramão da crise. Além de inovarmos, nós expandimos, gerando novas oportunidades de emprego. Estamos com nossa equipe completa e hoje podemos atender também os pacientes de Taguatinga, Águas Claras, Samambaia, Ceilândia e Vicente Pires”, explica.
Sonho desde criança
E quando o dom de empreender vem de berço? Mayara Milfont, que o diga. A jovem brasiliense começou no mundo dos negócios aos oitos anos de idade. Na época, ela queria comprar esmaltes de todas as cores. Para arrecadar dinheiro, montou um álbum de fotos do ator Leonardo DiCaprio e oferecia para os vizinhos por R$1.
Aos 21 anos, trabalhou em uma loja de roupas femininas e se apaixonou pelo mundo da moda. Depois, começou a vender roupas em e casa e hoje o nome de Mayara estampa a entrada da sua loja de roupas femininas, que fica na 707/907 Sul. O empreendimento já tem 10 anos e é uma marca sólida no Distrito Federal.
“Eu amo o que faço, não me imagino fazendo outra coisa. A dica que eu dou para quem quer empreender e crescer no mercado é: seja apaixonada pelo seu negócio. Vibre seu coração, se empenhe, trabalhe com dedicação e cuidado com os detalhes que você vai chegar lá”, aconselha Mayara Milfont.
Machismo
As irmãs Isabela e Luana Finger estão à frente da pizzaria Valentina, localizada na Asa Sul e Norte. A empresa foi fundada em dezembro de 2006, pelo Robson Cunha, pai das empreendedoras. Desde que elas começaram a trabalhar nos negócios da família perceberam que eram minoria no mercado, já que dos 90 colaboradores, quase todos eram homens.
“Há sete anos, desde que comecei a tocar os negócios da Valentina, senti que enfrentaria um grande desafio por ser nova e mulher, justamente pela cultura brasileira e pelo machismo. Eu não era ouvida, me sentia extremamente calada. Não conseguia me impor”, explica a empreendedora Luana Finger.
A empresária decidiu fazer cursos de oratória, liderança e comunicação para criar uma casca, aprendendo a ter uma energia masculina. Até que ela percebeu que por ser mulher tinha um grande diferencial, como ser mais detalhista e cuidadosa. Foi como juntar o útil ao agradável.
“Isso é uma grande crença de que precisamos nos posicionar como homem. A gente tem que aprender que somos capazes sim, a gente consegue sim. Nós somos fortes. É necessário ter muita resiliência e nunca desistir”, pontua Isabela.
Mercado ainda tem disparidade entre homens e mulheres, diz especialista em empreendedorismo
Apesar do crescimento no mundo dos negócios, a especialista em empreendedorismo Juliana Guimarães alerta para um dado alarmante que diz respeito às diferenças de gênero que ainda existem: as mulheres empreendedoras são mais jovens e possuem um nível de escolaridade 16% maior que o dos homens, porém, continuam ganhando 22% a menos que os empresários do gênero masculino.
“Outra distinção que afeta os negócios gerenciados por mulheres é o acesso a crédito e linhas de financiamento: o valor médio de acesso a empréstimos feito por empresárias é de R$ 13 mil a menos do que a média liberada para homens. Como agravante, mesmo com uma inadimplência mais baixa (3,7% para mulheres e 4,2% para homens), as taxas de juros cobradas de empresárias é 3,5% maior do que de empresários”, explica.
Outros dados analisados pelo Sebrae mostram que 96,3% das empreendedoras têm apenas um trabalho. Além disso, 75% das empresárias estão há dois ou mais anos no mesmo trabalho e 81% das “donas de negócio” não têm sócios.
“Então, qual a importância do empreendedorismo feminino? Porque os dados mostram que as mulheres que se aventuraram no mundo dos negócios, investem seu tempo e se dedicam para atingir o sucesso, por vezes, sem contar com o apoio de sócios, com quem possam compartilhar inseguranças e decisões, e ainda encerram a rotina sendo chefes de família. São mulheres com dupla, tripla jornada de trabalho e que ainda geram empregos e fazem a economia girar”, pontua a especialista.
Por isso, estimular o empreendedorismo feminino é proporcionar liberdade financeira para muitas chefes de família, é compreender que a engrenagem maior, chamada economia, precisa de pessoas como essas empresárias, que dedicam o seu tempo e têm o sucesso como a única meta possível.