Pesquisa alerta para riscos ambientais na área da rodovia Fernando Guilhon e denuncia racismo ambiental

Uma área do igarapé Bela Vista, localizada próximo à avenida Fernando Guilhon, em Santarém, no oeste do Pará, está sob sério riscos ambientais. É o que revela um levantamento feito pelo Grupo de Estudos Avançados em Gestão Ambiental na Amazônia (GEAGGA) do Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas (ICTA) da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), que elaborou um relatório, com base nos trabalhos desenvolvidos na área da ocupação Bela Vista do Juá, no período de 2019 a 2022. O documento aponta situações de ‘desastre iminente.

O relatório foi entregue, por meio de ofício, à Prefeitura Municipal de Santarém, Defesa Civil e Ministério Público Estadual. Segundo o documento, o risco de “desastre iminente”, ocorre especialmente na parte alta do igarapé, próximo à avenida Fernando Guilhon, importante via de tráfego de veículos, que dá acesso ao aeroporto e à Vila de Alter do Chão. “Entre as situações identificadas estão riscos de alagamento, inundação, desabamento de residências e restrição de acesso a moradias localizadas às margens do igarapé”, alertou o professor Dr. João Paulo de Cortes, um dos responsáveis pela elaboração do relatório.

O relatório, que já está nas mãos de autoridades municipais, denuncia também o que os pesquisadores estão chamando de “racismo ambiental”. Para ele, “as obras que foram feitas na rodovia Fernando Guilhon aumentaram a capacidade de escoamento da água com a colocação de manilhas mais largas, porém, isso resolveu parcialmente o problema, principalmente no que afeta uma parcela da população – aquela de anda de carro, por exemplo, e transfere o problema para os moradores do entorno, chegando a atingir até os pescadores que vivem na área do igarapé do Juá”, afirmou Cortes.

“Ao longo do trecho analisado, 23 residências estão localizadas imediatamente à margem do igarapé e se encontram em situação de risco de alagamento e inundação rápida ocorridos em função do transbordamento do canal”, alertou o professor.

“O encaminhamento dos resultados prévios se dá no sentido de alertar as autoridades responsáveis a respeito de situações observadas em campo e analisadas com ferramentas de geoprocessamento e sensoriamento remoto, as quais podem ser agravadas a partir do início do período chuvoso na região”, informou o professor. “Entre os fatores que contribuem para o incremento destes riscos estão a forma do canal e o acúmulo de resíduos ou outros obstáculos ao fluxo hídrico, como troncos e galhos de árvores”, acrescentou a Profa. Diani Less (ICTA), que também assina o relatório.

Bacia Hidrográfica do igarapé Bela Vista – O professor chama a atenção para o que os pesquisadores estão classificando de “bacia hidrográfica do Bela Vista”. Ele explica que uma bacia hidrográfica compreende uma área que tem divisores entre si e cuja água que circula converge para um único lugar. No caso do igarapé Bela Vista, seria o perímetro compreendido entre a rotatória que dá acesso ao bairro do Maracanã e a que dá acesso à Vila de Alter do Chão, na estrada do aeroporto. “O igarapé do Bela Vista não era reconhecido como tal, e sim como um esgoto. Por isso, foi necessário desenvolvemos ações de educação ambiental voltadas para os estudantes de ensino fundamental e médio e também para os educadores para esclarecer que aquele curso de água era na verdade um igarapé”. Além da falta de reconhecimento por parte dos moradores, de acordo com o pesquisador nenhum documento público reconhece o local como sendo uma área de drenagem natural. Cortes lembrou que, dessas ações de educação ambiental, um dos resultados foi a criação de uma cartilha voltada para educadores: “A importância da Defesa Civil nas ações de prevenção a riscos e desastres”. (A cartilha está disponível para ser baixada gratuitamente AQUI.)

Áreas de abrangência da pesquisa – A área de abrangência dos estudos corresponde à quadra situada entre a rua São Lázaro, a rua das Flores, a travessa São Jorge e a avenida Fernando Guilhon, na área da Ocupação Vista Alegre do Juá, onde estão concentradas as situações de maior risco identificadas pelos pesquisadores.

Metodologia – Durante quatro anos os pesquisadores fizeram o acompanhamento da área por meio de conversas com moradores locais e do monitoramento das situações reportadas com a utilização de drone. Os drones fazem parte de um conjunto de técnicas de pesquisa de geoprocessamento e sensoriamento remoto. “Porém os drones – que são as mais revolucionárias ferramentas de observação do espaço – nos permitiram duas coisas: a primeira, ver em grande escala de detalhe o espaço observado, e alcançar uma resolução espacial muito fina”, explicou Cortes; segundo ele, foram realizados cinco voos guiados no período de 2020 e 2022, “em cima das mesmas feições de espaço”, o que conferiu “maior precisão”, esclareceu o professor.

Responsáveis pelo relatório – Os pesquisadores responsáveis pelo relatório atuam no âmbito dos projetos “Avaliação de riscos e educação ambiental aplicada à recuperação ambiental na Microbacia do Igarapé do Juá” e “Medidas estruturais e não estruturais para recuperação ambiental da Microbacia do Juá para fins recreativos e turísticos”, financiados por meio do edital nº 002/2021 do Programa Extensão na Comunidade (PEC) da Pró-Reitoria da Cultura, Comunidade e Extensão (Procce) da Ufopa. Dessa pesquisa, que durou quatro anos, já resultaram trabalhos de conclusão de curso (TCCs), capítulo de livro, apresentações em eventos científicos, e está sendo elaborado um artigo científico com os dados coletados.

O relatório técnico é assinado pelas equipes de ambos os projetos, orientados pelo Prof. João Paulo de Cortes e pela Profa. Diani Less, docentes do ICTA e contemplados pelo edital PEC da Procce.

Comunicação/Ufopa

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