80% do desmatamento brasileiro está na Amazônia e é diretamente associado à pecuária
Por: Lana Mota*
O impacto que a pecuária causa ao meio ambiente é pouco divulgado, porém essa atividade econômica é uma das que mais causa prejuízos quando pensamos em proteção ambiental e emissão de gases do efeito estufa, além de levantar outros temas, como a forma agressiva em grande escala que os animais são submetidos. De acordo com a Organização das Nações Unidas – ONU para Agricultura e Alimentação (FAO), o setor pecuário é responsável por 14,5% das emissões de gases do efeito estufa global oriundas de atividades humanas.
Os impactos que a exploração pecuária causam ao planeta e, principalmente, à Amazônia, são de grande monta, tendo em vista que essa atividade é responsável, segundo o relatório Estado das Florestas do Mundo, de 2016, lançado pela FAO, por mais de 80% do desmatamento brasileiro e está diretamente associado à criação de pasto.
A docente de Direito Ambiental da UNAMA, Nazaré Rebelo, destaca que para corroborar com o alto nível de degradação ambiental causado pela atividade agropecuária, este segmento econômico emitiu em 492 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente (CO2e) em 2018, montante que significa 25% do total das emissões brasileiras no período. “O setor agropecuário é a segunda maior fonte de emissões do Brasil, afirma o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora). Não bastasse, esse setor é o terceiro maior emissor global, especificamente na agropecuária, ou seja, é um segmento com intensas emissões de gases do efeito estufa”, afirma a professora.
De acordo com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), estima-se que o gás metano é o segundo maior responsável pelo aquecimento global, logo depois do dióxido de carbono (CO2), e afere-se que 70% das emissões desse gás provenham de atividades humanas, com destaque para a pecuária.
“Ao pensarmos também na utilização da água, destaca-se a quantidade de água utilizada para que 1kg de carne bovina seja produzido. Vejamos, são necessários 17.100 litros de água para produção de 1kg de carne bovina. E essa água é potável, logo própria para o consumo humano. É a água que não vemos. É a água virtual, entendida como insumo, ou seja, é a quantidade de água empregada no processo de produção de bem ou serviço. É aquela água que se consome, mas não se vê, por conseguinte, não se tem a mensuração de quanto é gasto. Vale ressaltar que este conceito foi apresentado pelo geógrafo norte-americano Tony Allan, no início dos anos 1990”, aponta Nazaré.
Para além, a água é também amplamente utilizada na plantação de grãos, especificamente a soja, que tem como destino principal, a alimentação do rebanho bovino. Mas, como o gado emite gás do efeito estufa? Simples: por meio do seu processo digestivo, os ruminantes, como bovinos, búfalos, cabras e ovelhas, e o manejo de seus dejetos produzem metano, outro gás causador do efeito estufa. Uma tonelada de metano equivale a 21 toneladas de CO2.
A relação entre a derrubada da floresta, especificamente no caso da Amazônia, e a criação de pasto para o gado reflete diretamente na degradação ambiental em larga escala, pois cada vez que uma árvore é derrubada para dar lugar a pasto, começa um ciclo que ninguém vê, mas todos sentem, porque o desmatamento libera gás carbônico e acaba com as chances de a natureza ajudar a reverter a ação humana, já que as árvores têm o poder de retirar carbono da atmosfera e, assim, diminuir o efeito estufa. Quando a área devastada é ocupada por gado, a sequência nociva ao meio ambiente se completa.
Para os especialistas, a solução para diminuir essa degradação começa na mudança de atitudes e hábitos, como diminuir o consumo de carne vermelha e derivados do leite, substituindo por proteínas de origem vegetal. Para que dessa forma, a criação desenfreada de bovinos e suínos diminua e as plantações de soja causem menos efeitos negativos ao meio ambiente, produtos estes que em sua maioria são usados exclusivamente de alimentos para os animais. Outra alternativa é a utilização da agricultura orgânica.
*É jornalista e assessora da Unama em Santarém