Pará inclui exame de toxoplasmose congênita no teste do pezinho

A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), por meio do Laboratório Central do Estado (Lacen-PA), incluiu a análise de toxoplasmose congênita no Programa de Triagem Neonatal (PNTN), conhecido como teste do pezinho. Com a inclusão, em dezembro de 2023, o Pará passou a cumprir totalmente a primeira etapa do PNTN, conforme estabelece a Lei Federal nº 14.154, que entrou em vigor em maio de 2022, com o objetivo de aperfeiçoar o Programa, ampliando o rol de doenças rastreadas pelo teste do pezinho.

Pela nova lei, o PNTN está dividido em cinco etapas. Além da toxoplasmose, a primeira etapa inclui a detecção da fenilcetonúria e de outras hiperfenilalaminemias, hipotireoidismo congênito, doença falciforme e outras hemoglobinopatias, fibrose cística, hiperplasia adrenal congênita e deficiência de biotinidase.

Causas e consequências – A toxoplasmose é uma infecção causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, encontrado nas fezes de gatos e outros felinos, que pode se hospedar em humanos e outros animais. Causada pela ingestão de água ou alimentos contaminados, é uma das zoonoses mais comuns no planeta.

A forma congênita ocorre quando a gestante entra em contato pela primeira vez com o Toxoplasma gondii e adquire a infecção. O parasita se multiplica na placenta e pode infectar o feto, causando várias complicações, como restrição do crescimento intrauterino, prematuridade e anormalidades visuais, auditivas e neurológicas. As sequelas tardias são mais frequentes na toxoplasmose congênita não tratada.

As gestantes com toxoplasmose podem permanecer sem sinais e sintomas, por isso é importante a realização do pré-natal e de ações de preventivas, diagnóstico e tratamento.

A principal medida de prevenção contra a toxoplasmose é a educação em saúde, principalmente para mulheres que estão em idade fértil e gestantes. É fundamental manter boas práticas de higiene pessoal e dos alimentos.

A coordenadora estadual de Saúde da Criança, Ana Cristina Guzzo, ressalta o teste do pezinho como estratégia fundamental para a saúde das crianças, porque permite o diagnóstico e tratamento precoce de doenças graves, que podem comprometer o crescimento e desenvolvimento infantil. “Está na Constituição Federal e, além de ser responsabilidade do Estado, dos pais e da comunidade, é de todo gestor garantir o teste do pezinho para todos os recém-nascidos em seu município”, informa Ana Cristina Guzzo.

Coleta da amostra – Para que a Triagem Neonatal ocorra como preconizado, a Sespa orienta que as amostras de sangue do recém-nascido sejam coletadas após 48 horas do nascimento, especificamente entre o 3º e o 5º dia de vida, porque é necessário que o bebê se alimente e metabolize o alimento, para que a amostra seja adequada à análise.

Segundo Ana Guzzo, também é importante que todas as unidades Básicas de Saúde e maternidades estejam habilitadas para realizar a coleta e enviar ao Lacen-PA, laboratório de referência do PNTN.

No Pará, o PNTN dispõe ainda do Serviço de Referência em Triagem Neonatal (SRTN), que funciona na Unidade de Referência Especializada Materno-Infantil e Adolescente (Uremia), para onde são encaminhadas crianças diagnosticadas com alguma das patologias triadas. Na unidade elas têm acompanhamento multiprofissional, evitando as sequelas e dificuldades que a doença pode causar sem o atendimento adequado.

Análise laboratorial – A amostra de sangue do recém-nascido é coletada em uma folha de papel filtro nas maternidades, e demais unidades de saúde, e encaminhada ao Lacen-PA para realização do exame. O resultado sai em 12 dias, sendo enviado à Unidade Básica de Saúde ou à maternidade coletora.

De acordo com o diretor do Lacen-PA, Alberto Júnior, são recebidas, em média, dez mil amostras de sangue por mês, e realizadas cerca de 60 mil análises.

Ele informa, ainda, que quando o resultado do teste do pezinho apresenta alguma alteração, é solicitada uma segunda amostra ao município, para comprovação. Se der normal, o resultado é liberado. Mas caso a alteração permaneça, os responsáveis pela criança são informados, e o bebê é encaminhado para tratamento no Serviço de Referência de Triagem Neonatal da Uremia.

Vitória – Segundo a médica infectologista Cléa Bichara, professora adjunta IV da Universidade do Estado do Pará (Uepa), a inclusão do exame foi uma vitória da Saúde Pública. Ela também é pesquisadora do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal do Pará (UFPA), que há mais de 20 anos é referência em toxoplasmose materno-infantil.

Cléa Bichara explica que a inclusão do exame é resultado da luta de grupos de professores, pesquisadores e gestores, mobilizados durante muitos anos diante de grandes surtos e muitas crianças com sequelas da toxoplasmose congênita. “Por meio da Rede Brasileira de Pesquisa em Toxoplasmose foram feitas grandes campanhas e documentos, produzidos, inclusive, em eventos científicos, para que o governo incluísse a primeira doença infecciosa na triagem neonatal no Brasil”, conta a especialista, acrescentando que “foi uma luta vitoriosa, e o Pará foi um dos estados que mais votou a favor, em relação ao País, tendo sido criada a lei para ser implantada a primeira doença infecciosa no perfil da triagem neonatal, no nosso famoso teste do pezinho”.

A infectologista ressalta, ainda, que em áreas de alta prevalência, como a região Norte, é muito importante fazer uma vigilância completa da toxoplasmose congênita durante o pré-natal, por meio de triagem sorológica nas grávidas, principalmente no primeiro trimestre. “O ideal é que a grávida seja acompanhada e realize o exame, pelo menos a cada dois meses durante a gravidez. É preciso fazer a sorologia para identificar aquelas mulheres sob risco, e resgatar, com a triagem neonatal, as crianças, cujas mães não tiveram a oportunidade de fazer o exame durante a gravidez”, orienta.

Ela disse também que devem ser reforçadas todas as medidas de educação, independentemente se a gestante já teve previamente ou não a doença. Entre as medidas preventivas, Cléa Bichara cita evitar contatos com gatos, não limpar jardins, não varrer o quintal, não comer carne crua ou mal passada, e ter cuidado com os vegetais.

Desde a inclusão do exame no PNTN no Pará, informa Cléa Bichara, já foram identificados casos de crianças com toxoplasmose congênita, já direcionadas aos serviços de referência do Estado. “A toxoplasmose tem alto impacto no desenvolvimento neuromotor, e essas crianças vão ter a chance de fazer o seu tratamento e a sua reabilitação”, conclui.

Fonte: Agência Pará

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *