“Repare nas mãos das mulheres que benzem; os dedos dedilham a crença e o amor…”, trecho da composição do músico obidense Wander de Andrade (in memoriam), inspira uma nova produção audiovisual em andamento no município de Santarém-PA. Com uma equipe 100% feminina à frente, o videoclipe homenageia as benzedeiras e a ancestralidade das mulheres amazônicas, embalado pela música “Mulheres que Benzem”.
Dirigido por Priscila Tapajowara, diretora de cinema indígena, e estrelado pelas cantoras Priscila Castro e Ádria Góes, o projeto conta com financiamento da Lei Paulo Gustavo do edital municipal e promete emocionar com uma narrativa rica em memórias afetivas, destacando a homenagem feita na música à Dona Didita, avó de Wander, que era benzedeira. As gravações foram feitas no igarapé da comunidade de São Raimundo, no Eixo Forte, com algumas cenas ainda previstas para serem gravadas no início de julho. O lançamento do trabalho está programado para o final de agosto.
Equipe Feminina
A inovação deste projeto está na formação de uma equipe composta inteiramente por mulheres, um marco importante no cenário audiovisual da região do Baixo Amazonas. Essa escolha destaca a representatividade e a valorização do talento feminino em um campo tradicionalmente dominado por homens.
“Quando elaboramos esse projeto, pensamos em uma equipe totalmente de mulheres e estamos orgulhosas de tudo que está sendo realizado”, diz Tapajowara, proponente do projeto e diretora emergente no cenário cinematográfico da Amazônia.
“A música do clipe é linda e fala justamente da nossa força e ancestralidade, fala dessas mulheres que curam. O projeto está lindo, lindo e não tenho dúvidas de que o resultado será emocionante”, afirma.
Priscila Castro ressalta que a equipe inclui profissionais experientes e jovens aspirantes a produtoras. “A ideia é dar protagonismo aos talentos da nossa região. A equipe de direção, assistência, produção, comunicação, maquiagem, cabelo, figuração e ainda as personagens do roteiro são todas santarenas. Cada detalhe foi pensado com cuidado, no coletivo”, destaca.
Homenagem às Benzedeiras
Benzedeiras, segundo a crença popular, são mulheres que, por meio de orações e gestos simbólicos com plantas, curam e protegem. Estas práticas, profundamente enraizadas na cultura local, combinam elementos religiosos e tradicionais. “Tenho certeza de que quase todo mundo que vive por aqui em algum momento da vida já foi benzido por alguém, e isso será bem retratado nas cenas do clipe”, afirma Priscila Castro.
A produção incluirá cenas de rituais de benzeção e outras cenas simbólicas. “As cenas se baseiam na memória da Dona Didita. O Wander ajudava ela ao buscar os ramos de plantas para o ritual, e daí surgiu a vontade de imortalizá-la com essa letra musical. Foi emocionante gravar as primeiras cenas”, disse Ádria Góes, esposa do compositor.
Parceria artística e amizade
A música homenageada faz parte do primeiro álbum de Priscila Castro, “A Voz do Rio”, que venceu o Prêmio Amazônia de Música 2023 como melhor álbum latino-amazônico, com a canção “Mulheres que Benzem”. Para compartilhar os vocais, Priscila convidou Ádria Góes, amiga de longa data. A parceria é significativa não só pelo talento das duas artistas, mas também pela amizade que compartilham musicalidade e companheirismo há mais de 20 anos, fortalecendo ainda mais a mensagem de união e força feminina que o projeto busca transmitir.
“Trabalhar com a Ádria é sempre uma alegria imensa. Esse projeto tem um significado muito especial e simbólico pra gente”, disse Priscila.
Para Ádria, a amizade das duas sempre foi muito musical. “Nós nos conhecemos na música, cantando, em igrejas, sempre fizemos parte dos mesmos grupos musicais, construímos uma amizade linda. Agora ela faz essa homenagem ao meu marido”, lembrou.
Mini Bio das cantoras
Priscila Castro: Iniciou a vida artística aos 17 anos e já realizou vários trabalhos importantes ao longo da sua trajetória. Ela foi vencedora do Prêmio Amazônia de Música 2023 após o lançamento do seu primeiro álbum. Priscila gerencia sua carreira e atua como produtora cultural, participando de diversos festivais importantes e tendo no portfólio parcerias musicais relevantes para a música paraense.
Ádria Góes: Iniciou sua trajetória musical muito jovem. Em 1999, já cantava em uma banda de baile e depois seguiu carreira solo. Fez várias parcerias com Wander, especialmente em festivais de música, representando suas cidades, nos quais foi vencedora por muitas vezes.