COP30 em Belém veta açaí, tucupi e maniçoba do cardápio oficial

Regras da OEA e da UNFCCC para alimentação durante o evento proíbem pratos típicos da culinária paraense; exigências incluem cardápios veganos e redução da carne vermelha

Belém, palco da COP30 em novembro de 2025, não poderá oferecer aos participantes algumas das maiores joias da gastronomia amazônica, como açaí, tacacá, maniçoba e tucupi, dentro das áreas oficiais do evento. A decisão está em um edital publicado pela Organização dos Estados Ibero-americanos (OEA) e segue diretrizes da UNFCCC e da Anvisa.

O documento estabelece regras rígidas para a operação de 87 restaurantes e quiosques, sendo 50 na Blue Zone e 37 na Green Zone, durante a conferência, que ocorre entre 3 e 28 de novembro.

Lista de proibições e justificativas

A restrição a pratos como o açaí é justificada pelo “risco de contaminação por Trypanosoma cruzi” (causador da Doença de Chagas), mesmo quando o produto é pasteurizado. Também estão vetados tucupi e maniçoba, além de outros itens:

Maionese caseira;

Ostras cruas e carnes malpassadas;

Sucos de fruta in natura;

Molhos sem registro;

Leite cru e derivados não pasteurizados;

Doces caseiros sem refrigeração adequada;

Gelo artesanal;

Produtos sem rotulagem sanitária.

Os operadores deverão seguir padrões que priorizem refeições à base de plantas, com foco na redução de carne vermelha e obrigatoriedade de oferecer opções veganas, vegetarianas, sem glúten, sem lactose e adaptadas a restrições religiosas (halal e kosher).

Outro ponto do edital é a determinação de que 30% dos ingredientes sejam locais ou sazonais, e que 30% do valor gasto em insumos venha da agricultura familiar. A venda de bebidas alcoólicas só será permitida entre 15h e 21h e com autorização prévia.

Audiência pública e reação local

Na próxima terça-feira (19), a Secretaria Extraordinária para a COP30 realizará uma audiência pública no Teatro Estação Gasômetro, em Belém, para esclarecer as regras e abrir espaço para que empreendedores, cooperativas e representantes da sociedade civil tirem dúvidas sobre o processo de seleção.

Apesar da exigência de uso de insumos locais, a proibição de pratos emblemáticos como o açaí e o tacacá gerou surpresa e frustração entre chefs e donos de restaurantes da capital. Estabelecimentos renomados como Casa do Saulo, Remanso do Peixe, Santa Chicória, Tacacá da Dona Maria e Box 49 do Ver-o-Peso, conhecidos por celebrar a cultura alimentar amazônica, terão de adaptar completamente seus menus caso participem da operação dentro das áreas da COP30.

A OEA afirma que segue “diretrizes técnicas rigorosas” para garantir a saúde dos participantes, e que as regras fazem parte de protocolos internacionais. Já a redução da carne vermelha atende a metas ambientais da própria Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima.

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