Crise na Mina Tocantinzinho: denúncias de assédio, jornadas exaustivas e risco ambiental em Itaituba; empresa nega acusações

A Mina Tocantinzinho, em Itaituba, no sudoeste do Pará, se transformou num palco de uma crise trabalhista e ambiental sem precedentes. No início do mês, funcionários cruzaram os braços em protesto contra condições de trabalho degradantes, jornadas de 12 horas seguidas de 14 dias diurnos e 14 dias noturnos, além de assédio moral sistemático por parte de coordenadores e gerência. Essas são algumas das muitas denúncias feitas pelos trabalhadores.

Eles relatam ainda que o sindicato que os representa seria conivente com a mineradora, deixando-os sem amparo diante de irregularidades. Durante a paralisação, oito funcionários teriam sido demitidos por “justa causa” mesmo sem completar 30 dias de ausência, enquanto os demais afirmam que retornaram ao trabalho por força de coação e sob ameaça de punições semelhantes.

“A votação do acordo coletivo foi fraudada. Quem votou ‘não’ apareceu como ‘sim’. É um absurdo. Não temos apoio de sindicato nem do Ministério Público do Trabalho. Estamos sozinhos”, relatou um operador que aceitou falar com a reportagem de O Quarto Poder, porém, na condição de anonimato.

Entre as denúncias, os trabalhadores destacam: não pagamento integral de horas extras e adicionais de confinamento; salários defasados, com reposição apenas pelo INPC, sem ganho real; ticket alimentação abaixo do necessário; assédio moral diário, com pressão intensa sobre produção e ameaças físicas e psicológicas; condições insalubres, sem infraestrutura adequada para descanso ou reuniões.

Segundo os trabalhadores ouvidos pela reportagem, a produção de ouro utiliza grandes quantidades de cianeto, armazenado em silos de 8 metros de altura e bacias construídas na borda da floresta, próximas ao Rio Tocantinzinho. Funcionários alertam que qualquer vazamento poderia contaminar o rio, provocando desastre ambiental.

Além disso, a mina já atinge 750 metros de profundidade, com previsão de chegar a 1 km de diâmetro, criando um impacto ambiental irreversível na região.

Ainda segundo os trabalhadores, todo o ouro produzido estaria sendo enviado para fora do país em avião particular, sem fiscalização visível da Receita Federal ou órgãos ambientais.

“O buraco que estamos abrindo nunca será fechado. E quando o ouro acabar, a empresa volta para o Canadá e deixa tudo para trás. O Estado e a população ficam com os prejuízos”, afirma um trabalhador, que também preferiu não se identificar.

Apesar da crise exposta pela paralisação dos trabalhadores, a Brazauro divulga resultados financeiros positivos: crescimento de receita e fluxo de caixa, produção recorde de ouro e estoque estratégico de minério, sem esclarecer se os tributos estão sendo corretamente recolhidos. Em julho, quase 25 mil kg de ouro foram extraídos.

Os funcionários afirmam que a situação exige intervenção imediata do Ministério Público Estadual, Federal e de órgãos ambientais, pois a pressão psicológica, a exploração e os riscos ambientais atingem a vida de trabalhadores e comunidades locais, além de gerar sérios prejuízos ao patrimônio natural da Amazônia.

“Não se trata apenas de salários ou direitos. É a segurança, a vida, a floresta e os rios que estão em risco. Precisamos que alguém faça valer a lei”, conclui um dos operadores.

A reportagem de O Quarto Poder entrou em contato com a Brazauro que encaminhou alguns esclarecimentos por meio de nota nesta terça-feira (7).

A empresa reiterou seu compromisso com práticas responsáveis nas áreas trabalhista, ambiental e de governança corporativa. A mineradora enfatizou que todas as suas operações são conduzidas em conformidade com a legislação brasileira e com os mais altos padrões internacionais de sustentabilidade.

No campo trabalhista, a Brazauro informou manter um rigoroso sistema de gestão de saúde e segurança ocupacional, com auditorias internas e externas, inspeções preventivas e acompanhamento médico contínuo. O regime de trabalho 14×14, 14 dias de trabalho seguidos por 14 dias de descanso, foi destacado como legalmente autorizado e previsto em acordo coletivo negociado com o sindicato da categoria.

A empresa também ressaltou que garante condições adequadas aos colaboradores, incluindo acomodações climatizadas, alimentação balanceada e transporte seguro. Além disso, repudiou qualquer forma de assédio, discriminação ou coerção, mantendo canais independentes e anônimos para denúncias, com investigação imediata e medidas corretivas sempre que necessário.

Com relação à paralisação recente de trabalhadores, a Brazauro afirmou respeitar integralmente o direito constitucional de greve e a livre representação sindical. Segundo a nota, todos os desligamentos ocorreram dentro dos parâmetros legais e sob acompanhamento jurídico. A votação do novo acordo coletivo, realizada em 2 de outubro, contou com supervisão sindical e da autoridade trabalhista, e a maioria dos trabalhadores aprovou os ajustes propostos.

No âmbito ambiental, a companhia reforçou que o Projeto Tocantinzinho opera com Licença de Operação válida, emitida pela Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas). O uso do cianeto, substância utilizada no processo de beneficiamento do ouro, é feito em sistema de circuito fechado, sem contato com o meio externo.

A Brazauro destacou ainda que mantém monitoramento constante da água, solo, fauna, flora, ruído e qualidade do ar, além de possuir planos de contingência e segurança que superam os requisitos regulatórios. Toda a produção de ouro é declarada e inspecionada por órgãos competentes, com plena conformidade tributária. Somente em 2025, a empresa já foi inspecionada duas vezes pela Semas e pelo Exército Brasileiro.

No aspecto de governança e transparência, a mineradora afirmou seguir políticas rigorosas de compliance, auditoria e integridade corporativa, alinhadas ao seu Código de Ética e a iniciativas internacionais como o Rumo à Mineração Sustentável (TSM), o Código Internacional de Gerenciamento de Cianeto (ICMI) e os princípios do Conselho Internacional de Mineração e Metais (ICMM).

Os resultados operacionais e financeiros da Brazauro passam por auditorias independentes, e a empresa mantém diálogo permanente com autoridades públicas, sindicatos e comunidades locais.

Por fim, a Brazauro reforçou seu compromisso com a proteção dos direitos trabalhistas, a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável na região de Itaituba e em todo o Estado do Pará, destacando que permanece aberta ao diálogo construtivo com todos os setores da sociedade.

CONFIRA A NOTA NA ÍNTEGRA:

A Brazauro Recursos Minerais LTDA. reafirma seu compromisso inabalável com a legalidade, a segurança e a transparência em todas as suas operações. A empresa conduz suas atividades em plena conformidade com a legislação brasileira, acordos coletivos de trabalho e os mais altos padrões internacionais de governança e sustentabilidade.

No que diz respeito às condições de trabalho e à saúde ocupacional, a Brazauro mantém um rigoroso sistema de gestão baseado na legislação brasileira e em normas internacionais, com auditorias internas e externas regulares, inspeções preventivas e monitoramento médico contínuo. O regime de trabalho 14×14, que consiste em 14 dias de trabalho e 14 dias de descanso, é autorizado pela legislação trabalhista brasileira e formalmente estabelecido em acordo coletivo negociado com o sindicato representativo, garantindo períodos adequados de descanso, acomodações climatizadas, refeições balanceadas e transporte seguro. A empresa repudia veementemente qualquer forma de assédio moral, discriminação ou coerção, e mantém canais de denúncia independentes e anônimos, com investigação imediata e adoção de medidas corretivas sempre que necessário. Todos os pagamentos relacionados a adicionais de turno e benefícios são realizados regularmente e em conformidade com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e com os acordos coletivos aplicáveis. Nosso acordo coletivo veda a realização habitual de horas extras, sendo permitidas apenas em serviços ou atividades inadiáveis e/ou essenciais.

Com relação à paralisação reportada, a Brazauro respeita integralmente o direito constitucional de greve e a livre representação sindical. Todas as decisões administrativas referentes a desligamentos foram tomadas estritamente dentro do marco legal e em conformidade com protocolos internos de compliance, respaldados por documentação e supervisão jurídica. Nenhum empregado foi alvo de retaliação ou coerção, e o processo de votação do mais recente acordo coletivo foi conduzido sob supervisão sindical e da autoridade trabalhista, garantindo transparência e legitimidade. Uma nova votação foi realizada em 2 de outubro, e a maioria decidiu pela aprovação dos ajustes.

Do ponto de vista ambiental, o Projeto Tocantinzinho opera sob uma Licença de Operação válida, emitida pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (SEMAS), garantindo total rastreabilidade dos insumos e rígido controle sobre o manuseio do cianeto. A substância é utilizada em um sistema de circuito fechado, sem contato com o meio externo. Também trabalhamos em estreita colaboração com a ANM (Agência Nacional de Mineração) no Brasil e seguimos todas as regulamentações, em contato próximo e transparente. A empresa implementa um abrangente Programa de Gestão Ambiental, que inclui monitoramento contínuo da água, solo, fauna, flora, ruído e qualidade do ar, além de planos de contingência e segurança que superam os requisitos regulatórios. Toda a produção de ouro é devidamente declarada e inspecionada pelas autoridades competentes, com total conformidade tributária. Somente em 2025, a Brazauro já foi inspecionada duas vezes pela SEMAS e pelo Exército (que controla o uso do cianeto).

Em termos de transparência e governança, a Brazauro mantém sólidas políticas de compliance, auditoria e integridade corporativa, alinhadas ao seu Código de Ética e Conduta Empresarial aplicável e a marcos internacionais de sustentabilidade, como a iniciativa Rumo à Mineração Sustentável (TSM), os padrões do Código Internacional de Gerenciamento de Cianeto (ICMI) e os princípios de desempenho Conselho Internacional de Mineração e Metais (ICMM). Os resultados operacionais e financeiros são auditados por empresas independentes, e a companhia mantém comunicação permanente com autoridades governamentais e comunidades locais, reforçando seu compromisso com o desenvolvimento sustentável na região de Itaituba e em todo o Estado do Pará.

Assim, a Brazauro reafirma seu sólido compromisso com a proteção dos direitos dos trabalhadores, a preservação ambiental e o estrito cumprimento de todos os requisitos legais e regulatórios aplicáveis, permanecendo aberta ao diálogo construtivo com autoridades, sindicatos e a sociedade civil.

Permanecemos à disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais.

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