Dezenas de comunidades de Oriximiná e Terra Santa, no oeste do Pará, estão participando do novo ciclo do Projeto Pé-de-Pincha, que está na fase de planejamento para as etapas de desova e coleta de ovos, que ocorrerão em setembro. Em novembro, começa a fase de eclosão dos ovos e as atividades de soltura estão previstas para os meses de fevereiro e março de 2022. Mais de 6 milhões de filhotes já foram devolvidos à natureza nos 22 anos desta iniciativa de conservação de espécies.
Nascida na comunidade São Sebastião – Boca dos Currais, em Oriximiná, a dona de casa Daniele da Costa Amaral é uma das voluntárias mais engajadas, que participa desde o ano de 2016 do Pé-de-Pincha. Ela contribui com várias etapas do projeto como a confecção dos ninhos e o monitoramento de uma das chocadeiras, que fica na casa do pai dela. “Eu faço um pouco de cada coisa. No tempo da coleta, a gente tem que cavar a terra para fazer o ninho e os tampos. Na maioria das vezes, sou eu quem faço e cuido para formigas não atacarem os ninhos. Também cuido da chocadeira, que fica na casa do meu pai. Eu faço as anotações dos ovos, dos coletores e da eclosão. E quando ocorre a eclosão, eu tiro os tracajazinhos dos ninhos. Quando os tracajazinhos estão no berçário, ajudo meu pai na lavagem do berçário e a buscar alimentação para eles”, relata.
A voluntária comenta que os desafios da pandemia não impactaram no seu entusiasmo pelo projeto. “Foi um pouco difícil, mas não é impossível, tomando os cuidados. Usando máscara e álcool em gel vamos seguindo firme e forte com esse lindo projeto”, assinala. Para Daniele, a maior satisfação é ver o nascimento dos tracajás. “É o momento que a gente vê que o esforço do nosso trabalho tem resultado porque dá muito trabalho, mas no final é muito gratificante. Queria que as pessoas se conscientizassem mais e ajudassem mais no projeto porque essa ação de conservação ambiental é para nós, para nossos filhos e para as futuras gerações”, destaca.
Realizado pelo Programa de Pesquisa e Extensão da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA) desde 1999, o projeto “Pé-de-Pincha” recebeu parceria da Mineração Rio do Norte (MRN) a partir de 2002 e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) nesta ampla iniciativa de incentivo à conservação de quelônios. “É um dos maiores projetos de proteção de espécies que somos parceiros nesta região. Aproximadamente 3.000 pessoas, entre quilombolas e ribeirinhos das 30 comunidades participam de todas as etapas do projeto, seguindo todos os protocolos de segurança em saúde neste período de pandemia. Um dos seus méritos é engajar um considerável número de voluntários que compartilham suas experiências e saberes sobre o manejo participativo e educação ambiental”, explica Genilda Cunha, analista de Relações Comunitárias e coordenadora do projeto pela MRN.
Nos últimos anos, em média, mais de 60 mil filhotes são soltos em cada temporada. Ano passado foram protegidos em Terra Santa e Oriximiná, 63.589 filhotes de tracajá (Podocnemis unifilis), 2.616 de tartaruga (P. expansa), 1.781 filhotes de pitiús ou iaçás (P. sextuberculata), 148 filhotes de calalumã ou irapuca (P. erythrocephala) e 5 filhotes de cabeçudo (Peltocephalus dumerilianus). Um total de 68.139 filhotes foram devolvidos à natureza em fevereiro e março deste ano.
Nos anos de 2020 e 2021, 30 comunidades, sendo 20 de Oriximiná e 10 de Terra Santa, precisaram adaptar algumas dinâmicas do projeto por conta da pandemia de Covid-19. “Tivemos que adaptar as atividades para evitar aglomerações nas solturas e durante as reuniões nas sedes dos municípios. Trabalhamos neste período com um número bem reduzido de acadêmicos, porém, não foi reduzido o número de locais de conservação, pois os comunitários estão bem treinados e são acompanhados pela coordenação do projeto”, relata Sandra Azevedo, coordenadora do Pé-de-Pincha pela UFAM em Oriximiná.
Atualmente, estão sendo realizadas visitas nas comunidades para o planejamento das próximas atividades do projeto: treinamento, coleta dos ovos e eclosão dos filhotes como apoio da MRN. “A Mineração Rio do Norte foi fundamental nestes tempos de crise, dando o suporte necessário em todas as etapas do projeto, nas quais as pessoas tendem a unir esforços e contribuir para soluções que viabilizem o manejo racional e sustentável de quelônios pelas próprias comunidades”, conclui Azevedo. (MRN)